JUNTANDO OS CACOS

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De joelhos ante o quadro caótico na economia e na política, a presidente Dilma Rousseff ordenou a sua equipe que mude a forma de se comunicar com os eleitores. Ela determinou que, a partir de agora, o discurso seja focado na retomada do crescimento econômico. No entender do Palácio do Planalto, é preciso difundir junto à população que todo o sofrimento que o país enfrentará pelo menos até o fim deste ano será recompensado mais à frente com a recuperação da atividade. Para isso, será apresentado um plano pós-ajuste fiscal. Não será fácil esse trabalho de convencimento.

Assessores da presidente acreditam que a pior das notícias chegou com força maior que a esperada e antes do previsto: o desemprego. O aumento de um ponto percentual na taxa medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 4,3% para 5,3% entre dezembro e janeiro, poderá detonar de vez a imagem do governo. A visão é de que a corrupção que destruiu a Petrobras, a ponto de a empresa ser classificada como lixo (junk) por uma das principais agências de classificação de risco do mundo, deixou Dilma à beira do precipício. O empurrão final poderá vir da onda de demissões que se desenha no ar — apenas a indústria fechou 216 mil vagas nos últimos 12 meses.

Técnicos da equipe econômica dizem que não há como corrigir todos os estragos feitos no país no primeiro mandato de Dilma sem custos para a população. Eles ressaltam que a promessa do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é de que a arrumação da casa seja feita rapidamente para encurtar o sofrimento. Mas, à medida que a realidade se impõe, descobre-se que o atoleiro deixado por Guido Mantega e Arno Augustin é muito mais profundo que o imaginado.

Não à toa o resultado do Tesouro Nacional em janeiro ficou abaixo do projetado pelos especialistas. O superavit primário de R$ 10,4 bilhões, o pior para o primeiro mês do ano desde 2009, está contaminado pelos truques contábeis vigentes até o fim de 2014. O saldo de fevereiro também sentirá o baque das alquimias do governo passado, estimulando o debate de que Levy não conseguirá entregar a meta de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para a equipe econômica, a maior ameaça ao cumprimento da meta de superavit está no PT, o partido de Dilma. Ontem, mesmo com o puxão de orelhas dado por Lula em integrantes da legenda, a Comissão Executiva Nacional do partido divulgou resolução na qual defende o “aperfeiçoamento” das medidas provisórias que restringem o acesso a benefícios sociais, como o seguro-desemprego e as pensões por mortes. O PT também não aceita o veto da presidente à correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda.

Essa rebeldia dos petistas explicita a fragilidade política de Dilma. Justamente o partido que deveria dar todo o respaldo ao governo é o que mais está lhe criando problemas para juntar os cacos. A presidente, por sinal, é responsável por esse comportamento. Além de desdenhar da legenda que lhe garantiu a disputa pela reeleição, mentiu descaradamente durante a campanha ao assegurar que não mexeria em benefícios sociais, nem que a vaca tossisse. Os petistas sabiam que estavam sendo enganados, mas não acreditavam que a presidente promoveria uma mudança de rota tão profunda na gestão do país, a começar pela escolha de Levy para a Fazenda.

Âncora de credibilidade

A força de Joaquim Levy no governo ficou clara nos jantares que ele teve com representantes do PMDB, do PT e do PSD nos últimos dias. O ministro da Fazenda foi apresentado como a âncora da credibilidade que o governo quer passar. Ele abriu todas as conversas. Em média, falou por 40 minutos. Só depois se manifestavam os demais integrantes da equipe econômica, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que não participou de todos os encontros. A postura de Levy foi a de anular o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, apontado, por todos os políticos, como o símbolo maior da desastrosa comunicação do Palácio do Planalto.

Balanço à vista » Técnicos da equipe econômica garantem que a Petrobras, com os escritórios de advocacia que lhe dão assessoria, já encontrou a solução para lançar as perdas com a corrupção no balanço do terceiro trimestre de 2014, que ainda não foi publicado com a auditoria da PricewaterhouseCoopers (PwC).

Sinal da PwC

» A diretoria da Petrobras fez chegar ao governo que todas as opções para a publicação do balanço do terceiro trimestre já foram apresentadas à PwC, que ficou de dar aval nos próximos dias. Por isso, a expectativa de que a estatal resolva esse problema gravíssimo até o fim de março.Brasília, 09h50min

Vicente Nunes