Itaú Unibanco melhora a previsão para o PIB de 2022, mas piora a de 2023

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ROSANA HESSEL

Com a perspectiva de uma inflação mais elevada em 2022 e uma taxa básica de juros (Selic) mais elevada e por um período mais prolongado, o Itaú Unibanco melhorou as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, mas piorou as estimativas para o PIB de 2023.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira (14/3), a equipe liderada pelo economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, revisou projeção de crescimento do PIB em 2022, de queda de 0,5% para variação positiva de 0,2%, incorporando dados correntes melhores que o esperado e a mudança de fundamentos em direção favorável para a atividade econômica, como alta de preços das commodities e perspectiva de mais estímulo fiscal. Segundo o documento, a alta de 0,5% acima da expectativa do mercado e do banco no quarto trimestre de 2021, ajudou a melhorar a previsão para o PIB deste ano. Contudo, para 2023, a instituição reduziu a projeção de  crescimento de 1% para 0,5%, “considerando juros mais elevados e expectativa de alguma reversão dos preços de matérias-primas”.

As previsões do Itaú Unibanco estão mais pessimistas do que as estimativas do mercado. Conforme a mediana das previsões coletadas pelo Banco Central no boletim semanal Focus, divulgado hoje, o PIB brasileiro deverá crescer 0,49%, em 2022, e 1,43%. Na semana anterior, as projeções eram de 0,42% e de 1,50%, respectivamente. Essas taxas são menores do que as previsões para o crescimento global e não correspondem ao discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o PIB do Brasil “vai surpreender o mundo”.

Na avaliação da instituição financeira, o impacto direto da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre a economia brasileira “tende a ser limitado”, tendo em vista as relações comerciais entre o Brasil e os dois países. “Os principais efeitos, portanto, serão indiretos, via aumento dos preços internacionais de commodities, bem como impactos sobre o PIB global”, destacou o documento.

O choque nos preços de commodities devido à guerra na Ucrânia e a a perspectiva de crescimento marginalmente melhor, assim como a taxa Selic mais elevada ao longo do ano, devem permitir que o real passe uma parte maior do ano em patamar mais apreciado, de acordo com os analistas do Itaú Unibanco. Para o fim de 2022, no entanto, o banco manteve a projeção para a taxa de câmbio para o dólar em R$ 5,50 “em razão das incertezas externas e domésticas”.

Por conta das recentes altas nos preços do petróleo e das commodities agrícolas, o Itaú Unibanco elevou de 5,50% para 6,50% a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, levemente acima dos 6,45% esperados pela mediana das estimativas do Focus. Segundo o documento, parte do impacto de alta é amortecida pela redução anunciada da alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e pelo real mais valorizado taxa de câmbio média mais apreciada. Para 2023, a instituição manteve a projeção em 3,50%, abaixo da nova estimativa do Focus, de 3,70%.

Na avaliação dos analistas do Itaú Unibanco, a alta da inflação e das commodities e a melhora do PIB aumentam as receitas do governo. Com isso, a previsão de deficit primário neste ano passou de 1% para 0,3% do PIB. Em 2023, essa previsão de rombo das contas públicas passou de 1,3% do PIB para 0,9%, com dívida pública bruta em 81% e 84% do PIB neste ano  e no próximo, respectivamente. “Esses são patamares elevado para um mercado emergente, de modo que a sustentabilidade fiscal continuará sendo um importante desafio à frente”, destacou o documento.

Por conta do aumento das pressões inflacionárias e o consequente risco de desancoragem de expectativas, os economistas do Itaú Unibanco engrossam o coro do mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deverá realizar um aperto monetário mais prolongado do que o esperado antes da escalada da guerra na Ucrânia. Pelas projeções do banco, a taxa Selic deve subir 1,0 ponto percentual (p.p.) na reunião desta semana. Para maio, está prevista uma alta de 0,75 p.p., e, em junho, uma elevação de 0,50 p.p., encerrando o ciclo com a Selic em 13% – “patamar que deve se manter até o final do ano”.

Inflação duradoura e PIB global menor

De acordo com outro relatório do Itaú Unibanco divulgado hoje, a guerra na Ucrânia elevou os preços das commodities, “um efeito que pode durar alguns anos”. Com isso, o banco elevou de 4,3% para 5,4% a previsão de inflação global, acima dos 5,1% de 2021.

“O crescimento econômico será impactado pela alta de preços de energia e alimentos, além de condições financeiras mais restritivas”, destacou o documento do banco que reduziu a projeção de crescimento do PIB global de 3,6% para 3%.

Pelas novas estimativas do Itaú Unibanco, os efeitos do choque inflacionário serão diferentes em cada região e o Brasil será um dos países com as menores taxas de crescimento, se ela ocorrer.

Na Zona do Euro, a nova previsão do banco para o crescimento do PIB em 2022 passou de 4% para 3%. No caso dos Estados Unidos, o ajuste foi de 3,5% para 3,2%.

A previsão para a expansão do PIB da China subiu de 5% para 5,3%, dado que a meta de crescimento estabelecida pelo governo, em torno de 5,5%, sinaliza mais estímulos. A economia da Rússia deve encolher 10% este ano, pelas projeções do Itaú Unibanco.

Vicente Nunes