Ipea: inflação acelera para todas as faixas de renda pelo segundo mês consecutivo

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ROSANA HESSEL

Em pesquisa sobre o impacto da inflação por faixas de renda, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) identificou que a carestia não tem afetado ricos e pobres, indiscriminadamente.  Em março, o instituto constatou que aceleração da inflação ocorreu em todas as classes de renda nas comparações na margem, ou seja, em relação ao mês anterior, com percentuais mais elevados para as classes de renda média e média-alta, de 1,09% e de 1,08%, respectivamente, com relação a fevereiro.

Esses percentuais ficaram acima da alta de 0,93% registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, na comparação com o mês anterior.  Já as famílias com renda muito baixa ou baixa foram as que registraram menor percentual inflacionário no mês de março, de 0,71% e de 0,85%, respectivamente. Essas taxas ficaram abaixo da taxa do IPCA do mês passado.

Contudo, no acumulado em 12 meses até março, as famílias com renda mais baixa foram as que registraram maior percentual de inflação entre as faixas pesquisadas pelo Ipea. Os dados mostram alta de 7,24% para as famílias com renda muito baixa e de 6,87% para as famílias de renda baixa.

Essas taxas estão acima da alta de 6,1% apresentada pelo IPCA no acumulado em 12 meses até o terceiro mês do ano. Famílias com renda alta e média alta são as que sentiram o menor impacto da inflação oficial nessa base de comparação: de 4,67% e de 5,09%, respectivamente.

De acordo com a economista Maria Andréia Parente, técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, o ano de 2021 mostra uma mudança no impacto do custo de vida no bolso dos brasileiros do que o apresentado em 2020.  “A inflação para os mais pobres no acumulado em 12 meses ainda tem um peso muito forte da alta dos preços dos alimentos no ano passado, mas a tendência neste ano é de essa diferença diminuir e as taxas de pobres e ricos se aproximarem”, explicou, em entrevista ao Blog.

“Neste ano, o que tem pesado mais no custo de vida é a alta dos preços monitorados, como combustíveis, pois os mais ricos é que têm carro e, por isso, isso eles sentem mais o impacto. Nos próximos meses, ainda vemos ver aumentos no custo da energia elétrica”, acrescentou Maria Andréia Parente. Segundo ela, ao longo deste ano, a expectativa é que os preços de alimentos continuem registrando queda, o que vai ajudar a reduzir o impacto da inflação para os mais  pobres.

Na avaliação da economista do Ipea, no segundo semestre,  com o avanço da vacinação, é possível prever uma retomada da normalidade, se possível, do segmento de serviços, que foram muito afetados em 2020. Quando isso ocorrer, ela prevê que a inflação desse segmento, que é muito utilizado pelos mais ricos, tende a subir também, afetando as faixas de rendas mais elevadas, como já começou a acontecer com a alimentação fora de casa em março. “É possível que, no fim do ano, a inflação de ricos e de pobres tende a ficar mais próxima”, frisou a economista do Ipea.

Combustíveis têm maior impacto

Conforme o levantamento do Ipea, assim como o IPCA, que avançou 0,93%, em março na comparação com fevereiro, o grupo de transportes foi o que apresentou maior contribuição para a alta dos preços, com 11,2% de alta nos custos dos combustíveis.

No caso das famílias de renda mais baixa, além dos combustíveis, os reajustes do ônibus urbano, de 0,11%, e do trem, de 1,84%, também contribuíram para a pressão desse grupo que teve um peso de 3,81 ponto percentual no IPCA de março. Para as famílias de renda muito baixa, o grupo transportes representou um peso de 0,48 ponto percentual sobre a alta de 0,71% na inflação, ou seja, mais da metade do aumento no custo de vida. Para as pessoas com renda baixa, esse impacto foi de 0,66 ponto percentual sobre os 0,85% da inflação no mês passado. E, para aqueles com renda média-baixa, de 0,84%, sobre 1,02% de alta do IPCA.

Enquanto isso, as famílias de renda mais alta, as quedas nos preços de passagens áreas e de aplicativos de transportes, de 2% e de 3,4%, respectivamente, atenuaram o impacto dos reajustes nos combustíveis.

Em relação aos demais grupos, a segunda maior contribuição à alta da inflação das famílias mais pobres veio da habitação, refletindo os reajustes de 5,0% do botijão de gás, de 1,1% dos artigos de limpeza e de 0,76% da energia elétrica.

Para o segmento mais rico da população, o aumento de 0,89% da alimentação fora do domicílio explica a pressão exercida pelo grupo alimentos e bebidas. O estudo do Ipea ressalta que, mesmo diante desse aumento dos serviços de alimentação, o desempenho dos alimentos no domicílio, que registrou, no IPCA, a primeira desaceleração (-0,17%) desde outubro de 2019, voltou a impedir um aumento ainda maior das taxas de inflação em março.

O levantamento do Ipea leva em consideração o rendimento familiar mensal para as seguintes faixas: renda muito baixa, de até R$ R$ 1.650,50; renda baixa, entre R$ 1.650,50 e R$ 2.471,09; renda média-baixa, entre R$ 2.471,09 e R$ 4.127,41; renda média, entre R$ 4.127,41 e R$ 8.254,83; renda média-alta, entre R$ 8.254,83 e R$ 16.509,66; e renda alta, acima de R$ 16.509,66.

Vicente Nunes