Crédito: Reprodução/Internet. Linha de transmissão da Eletrobrás. Crédito: Reprodução/Internet

IPCA sobe 0,53% em junho e acumula alta de 8,35% em 12 meses

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,53% em junho e desacelerou 0,30 ponto percentual em relação à alta de 0,83% de maio, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quinta-feira (8/7).

 

A alta foi puxada pelos aumentos dos preços da energia, que puxou a alta de 1,10% no grupo Habitação — o maior impacto no IPCA de junho, de 0,17 ponto percentual. A inflação na energia elétrica, de 1,95% no mês passado, acabou desacelerando em relação aos 5,37% de maio, mas foi principal vilão do mês.

 

No acumulado do ano, o indicador da inflação oficial registrou alta de 3,77% e, nos 12 meses encerrados em junho, salto 8,35%, renovando o maior patamar desde setembro de 2016, de 8,48%. O IPCA acumulado em 12 meses até junho é utilizado na correção do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior. Portanto, o limite para essa regra em 2022 deverá ser elevado em R$ 124 bilhões ou R$ 125 bilhões, para R$ 1,609 trilhão ou R$ 1,610 trilhão, dependendo do arredondamento.

 

O dado do IPCA de junho ficou abaixo das estimativas do mercado, cujas estimativas variavam entre 0,60% e 0,80%, mas há  um alerta de que em julho, devido à recente alta nos preços dos combustíveis pela Petrobras, a inflação continuará pressionada e o indicador poderá registrar alta em torno de 1%, pelas projeções do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

 

O índice de difusão do IPCA, de acordo com o IBGE, ficou estável em relação a maio, permanecendo em 64% e a tendência é de maior espalhamento da inflação nos próximos meses, de acordo com o economista André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, que esperava alta de 0,65% no índice de junho.

 

“O IPCA veio um pouco abaixo mas, em julho, deverá avançar em torno de 1% por conta do recente reajuste na gasolina, no diesel e no gás de cozinha, e o indicador poderá chegar perto de 9% no fim deste mês e ultrapassar 9% em agosto. A partir de setembro, haverá uma desaceleração e a inflação oficial poderá encerrar o ano em torno de 7%, bem acima do teto de tolerância da meta deste ano, de 5,25%”, avaliou Braz. Ele prevê o IPCA encerrando 2022 em 4%, também acima do centro da meta no ano que vem, de 3,50%.

 

“A energia continua cara e há efeitos indiretos na produção industrial e no frete, por conta do diesel, e isso deverá ajudar a pressionar os preços, principalmente dos alimentos, no segundo semestre, que deverá ter um espalhamento maior das pressões inflacionárias”, alertou Braz. O analista lembrou que a crise hídrica também vai ajudar nesse espalhamento, porque já está afetando a pecuária e o preço das carnes, pois o gado depende de pasto e o produtor está tendo que entrar com a ração na alimentação dos bovinos. “A falta de chuvas também deverá atrapalhar a produção agrícola do Centro Oeste e do Sul do país o que poderá pressionar os preços dos alimentos daqui para frente”, alertou.

 

Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, avaliou que, a despeito do resultado ter vindo abaixo do esperado, as altas de julho e de agosto o IPCA deverão gerar uma “surpresa inflacionária para cima” de 0,10 a 0,15 ponto percentual, no trimestre móvel, consolidando a revisão de alta da projeção do Banco Central para o IPCA de 2021. “Para julho, estimamos uma taxa mais próxima de 0,6% a.m. em função da aceleração dos preços administrados, com os reajustes dos combustíveis e da energia elétrica”, destacou.

 

Na avaliação do economista, a crise política vai ganhando contornos amplos, “o que leva a considerar que recuo do dólar e dos
juros futuros são pontuais”. “Enquanto esse cenário não ficar mais previsível, haverá chances de estagnar as reformas com o ruído político com os militares e também uma abertura ou não de um novo processo de impeachment presidencial. Sem o financiamento pelos impostos, o aumento das transferências do Bolsa Família será puramente expansionista, mantendo rigidez na curva longa dos juros ao longo dos próximos dias”, acrescentou.

 

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, esperava 0,65% no IPCA de junho. Ele destacou que o resultado do indicador mostra que alguns componentes estão respondendo à atividade ainda fraca. “O vilão foi a energia elétrica que subiu 1,95% no mês depois de ter avançado 5,37%  em maio, mas o grupo Habitação segue pressionado onde destacamos a alta da taxa de água e esgoto, de 1,04%”, explicou. Diante do resultado, Perfeito manteve em 6,5% a previsão para a taxa básica de juros (Selic) no fim do ano.