Investimento estrangeiro direto encolhe 61,3% no mês de maio, segundo BC

Compartilhe

ROSANA HESSEL

Os ingressos líquidos de investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 1,2 bilhão em maio, volume 61,3% inferior aos US$ 3,1 bilhões contabilizados no mesmo mês de 2020, no auge da pandemia de covid-19, conforme dados divulgados pelo Banco Central nesta sexta-feira (25/06).  É o menor volume para o mês desde o início da série histórica, iniciada em 2007.

De acordo o relatório da autoridade monetária, em maio, houve ingressos líquidos de US$ 1,8 bilhão em participação no capital e saídas líquidas de US$ 563 milhões em operações intercompanhias. No acumulado de janeiro a maio, o fluxo de entrada de IDP somou US$ 22,5 bilhões, saldo 30% superior ao contabilizado no mesmo período de 2020.

O dado de maio, segundo Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, ficou “bastante abaixo” do previsto pela autoridade monetária, cujas estimativas era de um volume de entradas líquidas de US$ 2,3 bilhões.

Os números preliminares de junho no relatório de estatísticas do setor externo do BC indicam a entrada líquida de mais US$ 1,8 bilhão. A previsão da instituição é que, em junho, o fluxo de entrada de IDP some US$ 2,5 bilhões.

Nos 12 meses encerrados em maio deste ano, a entrada líquida de IDP totalizou US$ 39,3 bilhões, o equivalente a 2,6% do PIB. “Esse dado é o menor da série desde março de 2021, que registrou um saldo parecido em 12 meses”, informou o chefe do Departamento de Estatísticas do BC. Esse resultado, inclusive, é 35% inferior aos US$ 60,4 bilhões (3,57% do PIB) registrados no mesmo período até maio de 2020.

Na avaliação de Rocha, se as previsões de junho forem confirmadas, o fluxo de IDP poderá somar US$ 25 bilhões no acumulado do ano e, portanto, se houver uma “ligeira aceleração” na entrada líquida no segundo semestre, será possível que a previsão do BC para o ano para o investimento direto no país, de US$ 60 bilhões, seja cumprida.  “Estamos prevendo a entrada de US$ 35 bilhões no segundo semestre e, dessa forma, o fluxo do IDP está em linha com a projeção para a atividade econômica”, garantiu.

Apesar de o investimento direto no país de longo prazo estar encolhendo, o ingresso de capital especulativo é crescente após o Banco Central iniciar um novo ciclo de aumentos na taxa básica de juros (Selic) desde maio. Conforme os dados do BC, os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram ingressos líquidos de US$ 6 bilhões em maio de 2021, sendo US$ 2,9 bilhões em ações e fundos de investimento e US$ 3,1 bilhões em títulos de dívida. Em maio de 2020, os ingressos em ações somaram US$ 395,6 milhões. Nos 12 meses encerrados em maio de 2021, os ingressos líquidos de investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram US$ 41,8 bilhões, revertendo as saídas líquidas no mesmo período do ano passado que ficaram pouco acima de US$ 51 bilhões.

O relatório do BC mostra ainda que o saldo na conta de transações correntes do Brasil com o resto do mundo registrou superavit de US$ 3,8 bilhões em maio, revertendo o deficit de US$ 519 milhões no mesmo mês de 2020, devido ao saldo positivo recorde nas exportações. No acumulado em 12 meses encerrados em maio, o deficit em transações correntes somou US$ 8,4 bilhões (0,55% do PIB). Esse dado ficou 87,1% abaixo do saldo negativo de US$ 65,2 bilhões (3,85% do PIB) contabilizados no mesmo período até maio do ano passado.

Superavit recorde na balança

A balança comercial de bens registrou superávit de US$ 8,1 bilhões em maio deste , ante superávit de US$ 3,2 bilhões em maio de 2020. As exportações totalizaram recorde histórico de US$ 27,2 bilhões em maio de 2021, aumento de 54,4% em relação ao mesmo mês de de 2020, de acordo com o BC. As importações cresceram 31,9% no mesmo período, somando US$ 19 bilhões. A autoridade monetária informou que os dados das importações incluíram operações contábeis feitas no âmbito do Repetro (US$213 milhões em maio de 2021, e US$3,5 bilhões em maio de 2020).

O deficit na conta de serviços registrou aumento de 7,8% em relação ao saldo negativo de maio de 2020, somando US$ 1,6 bilhão no mês passado A conta de viagens internacionais registrou despesas líquidas de US$ 139 milhões em maio e US$ 442,9 milhões no acumulado do ano. Em 2020, esses saldos negativos estavam em US$ 86,5 milhões, no mês, e em US$ 1,6 bilhão no ano. Logo, os gastos dos brasileiros no exterior de janeiro a maio deste ano, foram 71,8% inferiores ao do ano passado.

De acordo com o técnico do BC, os dados sobre os gastos com viagens de brasileiros no exterior continua reprimidos por conta da pandemia da covid-19 e, portanto, não há uma recuperação clara porque os saldos da conta permanecem com valores “muito baixos”.

O relatório do BC ainda mostra que as reservas internacionais somaram US$ 353,4 bilhões em maio de 2021, aumento de US$ 2,5 bilhões na comparação com abril de 2021. “O resultado decorreu de retornos líquidos de US$750 milhões em linhas com recompra, bem como da contribuição positiva de US$1,1 bilhão e de US$326 milhões por variações de paridades e preços, respectivamente. A receita de juros atingiu US$ 407 milhões”, informou o BC.

Vicente Nunes