Temer está brincando com fogo

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Há um clima de apreensão e de decepção entre os economistas ante os passos mais recentes dados pelo presidente interino, Michel Temer. Para Marcos Lisboa, presidente da escola de negócios Insper, é inadmissível que o governo provisório, que assumiu prometendo um forte ajuste fiscal, ceda a grupos de pressão e transfira a fatura para a maior parte da sociedade. Ele se refere ao aumento concedido aos servidores públicos, que custará até R$ 58 bilhões em quatro anos, e à criação de mais de 14 mil cargos na administração pública.

“Estamos vivendo o maior desemprego da história, com 11,4 milhões de desocupados, e aqueles que ainda se mantêm no mercado de trabalho veem a renda cair. É inaceitável que um grupo que tem estabilidade no emprego, que tem voz em Brasília, transfira a conta para o restante da sociedade”, afirma Lisboa. Mantido esse tipo de comportamento, o governo Temer pode provocar uma crise ainda mais grave. “Não há mais como atender a grupos de interesse. É preciso pensar no país como um todo”, reforça.

Temer, ao avalizar o reajuste dos servidores (a conta vai aumentar, pois várias carreiras ainda não tiveram os projetos de aumento de salários votados pelo Congresso) e a ampliação de vagas em vários órgãos públicos, está indicando um sinal equivocado à sociedade, que está disposta a dar sua cota de sacrifício, mas quer um governo firme, comprometido com o ajuste fiscal. Não uma administração que brinque com fogo. A presidente afastada, Dilma Rousseff, se especializou em estripulias, manobras, pedaladas nas contas públicas. Foi golpeada por um processo de impeachment e entrou para a história como uma das piores presidentes do Brasil — senão, a pior.

Ainda é possível virar o jogo. Infelizmente, na ânsia de antecipar a votação do impeachment no Senado e de liquidar a fatura até julho, Temer está abrindo todas as portas e cedendo a todos os grupos de pressão. Corre o risco de meter os pés pelas mãos. Não há mais tolerância da sociedade, que sofre com desemprego, inflação alta e recessão, com governos comprometidos com grupos específicos em detrimento da maioria.

Brasília, 10h30min

Vicente Nunes