ROSANA HESSEL
A inflação oficial acelerou em dezembro e encerrou 2022 acima do teto da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5%, o que obrigará o Banco Central a enviar à presidência do CMN nova carta justificando o descumprimento da principal missão pelo por romper o teto da meta pelo segundo ano consecutivo.
A alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro surpreendeu o mercado e foi de 0,62%, 0,21 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de novembro, de 0,41%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta terça-feira (10/1). Com isso, o indicador da inflação oficial acumulou alta de 5,79% em 2022.
Em dezembro do ano anterior, o IPCA subiu 0,73%, acumulando elevação de 10,06% em 2021, também acima do teto da meta, de 5,25%. Em 2020 e em 2019, a inflação ficou acima do centro da meta, mas não estourou o limite superior. Com isso, será a sétima vez que o BC precisa justificar o descumprimento de sua missão desde o início do regime de metas, instaurado em 1999. A carta do BC sobre a meta de inflação de 2022 será publicada às 18h30 de hoje, de acordo com a assessoria da autoridade monetária.
As estimativas do mercado para o IPCA de dezembro eram de 0,46%, no boletim Focus, do BC. Neste ano, o teto da meta é menor, de 4,75%, e as projeções do mercado para o IPCA estão sendo revisadas para cima há quatro semanas seguidas, segundo o boletim Focus. A atual mediana das estimativas no Focus está em 5,36%.
De acordo com os dados do IBGE, todos os grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em dezembro e, para piorar, alta de preços está mais espalhada. O índice de difusão passou de 59%, em novembro, para 69%, em outubro.
A maior variação, de 1,60% e o maior impacto (0,21 p.p.) vieram do grupo saúde e cuidados pessoais, que acelerou em relação ao resultado de novembro (0,02%). A segunda maior contribuição, 0,14 p.p., veio do grupo alimentação e bebidas, que registrou alta de 0,66% em relação ao mês anterior. Juntos, os dois grupos representaram 56% do impacto total do IPCA de dezembro.
A alta de 0,66% no grupo alimentação e bebidas foi puxada pela alimentação em domicílio, que registrou alta de 0,71% nos preços, com destaque para o tomate, que encareceu 14,17% no mês de dezembro em relação a novembro. O feijão carioca registrou alta 7,37%, na mesma base de comparação; a cebola, de 4,53%; e o arroz, de 3,77%. No lado das quedas, os preços do leite longa vida recuaram 3,83%, a quinta queda mensal consecutiva, contribuindo com -0,03 p.p. no IPCA de dezembro.
O Rio de Janeiro foi a cidade com maior inflação no ano entre as 16 capitais pesquisadas pelo IBGE, acumulando alta de 6,65%, apesar de ter registrado a menor variação em dezembro, de 0,33%. Brasília acumulou inflação de 6,26% no ano, após o IPCA no último mês do ano subir 0,50%. A capital federal teve a quarta maior taxa anual entre as cidades pesquisadas, atrás de São Paulo e de Salvador, com altas acumuladas de 6,61% e de 6,29%, respectivamente.