ROSANA HESSEL
Um dia após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar alta, em novembro, de 1,17% na prévia da inflação oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), a maior variação desde 2002, resultando em salto de 10,73% no indicador no acumulado em 12 meses, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a reforçar a importância do combate à inflação e admitiu que, no caso do Brasil é mais difícil por conta da memória inflacionária, que acaba indexando a economia. Contudo, ele reconheceu que o BC errou na previsão do pico inflacionário.
“A inflação é o imposto mais perverso que tem, porque as pessoas que tem recursos conseguem se proteger, mas as que não têm, não conseguem. E ela também dificulta a parte de investimento de longo prazo”, afirmou Campos Neto, nesta sexta-feira (26/11), durante evento virtual organizado pelo Secovi-SP. Ele lembrou que alguns presidentes de bancos centrais estão comemorando o fato de terem um pouco de inflação.
Campos Neto reconheceu que o BC errou ao apostar que o ápice da inflação deste ano seria em setembro, mas os choques dos preços de energia acabaram “surpreendendo”, e afetando as cadeias produtivas, aumentando a disseminação da alta dos preços. Ao comparar o período mais recente de inflação e de juros mais altos, entre 2016 e 2017, o presidente BC avaliou que Brasil “sai de uma situação de inflação mais controlada e de mais de mais credibilidade e com descontrole fiscal menor”. “A partir do ano que vem, vamos ver uma melhora”, afirmou, sem precisar o mês quando haverá esse recuo.
O presidente do BC ressaltou que o desafio para o controle da inflação atual é maior do que em anos anteriores. “O Brasil nunca teve um surto inflacionário importante como agora. A aceleração dos preços em 2021 é de uma magnitude que gente nunca viu antes”, afirmou em uma demonstração maior com a inflação atual. Vale lembrar que as apostas para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro, é de uma alta superior a elevação de 1,5 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic) sinalizada pelo BC no comunicado de outubro.
De acordo com ministro, todo banqueiro central tem um dilema na hora de subir os juros, porque gostaria de conviver com inflação baixa, emprego rodando “mais perto do pleno possível, com ganho de produtividade e crescimento estrutural mais alto. “A vontade é sempre ter esses elementos, mas existem dois tipos de erro nesse processo de ajuste monetário. O primeiro, é subir demais (os juros) e depois chega a conclusão de que poderia ser mais suave e com um custo menor para a economia. E o outro erro é subir lento demais e não prestar atenção na desancoragem da inflação”, afirmou, ele, acrescentando , que acaba indexando os preços e o processo de ancoragem das expectativas de inflação acaba sendo mais prolongado, podendo colocar o país em uma recessão maior.
“A nossa história faz com que a atuação do BC do Brasil seja diferenciada”, afirmou, reforçando que o BC vai continuar fazendo o trabalho de ajuste monetário, iniciado em março, em um horizonte “não muito longo” e com credibilidade. Ele afirmou que, no caso do setor imobiliário, o impacto dessa alta de juros é isolado, “com uma margem de subida menor” do que outros segmentos e, por conta disso, esse efeito não será tão forte.
Durante a apresentação, ele destacou que o processo inflacionário é global e não está somente relacionado à oferta, mas também à questão de aumento da demanda, principalmente, de energia, pois há aumento no consumo do setor produtivo. Nesse sentido, ele criticou a falta de investimento no setor elétrico. Ao ser questionado por um dos participantes sobre mudanças na poupança, indexando a remuneração à inflação, Campos Neto não comentou muito sobre o assunto, mas admitiu que a queda nos depósitos precisa ser melhor estudada e uma mudança, se ocorrer, deve ser feita de forma lenta.
“Concordo que, em algum momento, a gente deveria estar pensando em anunciar uma fórmula de poupança que, primeiro, fosse mais segura e, depois, que fosse mais casada com a destinação dos recursos. Isso é uma coisa que a gente tem olhado”, disse.
Revisão das previsões
O presidente do Banco Central adiantou que, “dentro das próximas semanas”, a autoridade monetária vai divulgar as novas previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2022, mas superior à atual mediana das previsões do mercado, de 0,70%.
“A projeção do PIB de 2022 tem caído constantemente. Nós do governo temos um número mais favorável, de 2,1%, do Relatório de Inflação de setembro. Vamos divulgar em algumas semanas uma nova previsão e, provavelmente, vai ser mais baixo (do que a atual), mas não tão baixo quanto a mediana no mercado”, afirmou.
Campos Neto reconheceu que um dos maiores problemas do país e que vem incomodando os agentes financeiros é a capacidade de crescimento estrutural do Brasil, que, nos últimos sete anos, ficou em torno de 1% e, para crescer 2,5% nos próximos anos, ainda é um grande desafio. Nesse sentido, voltou a defender o avanço das reformas estruturantes para estimular o investimento no país.
Durante a abertura do evento, o presidente do Banco Central também demonstrou preocupação com a nova variante da covid-19, que mexeu com os mercados hoje.