Inflação dos mais pobres sobe 0,87%, maior alta desde 1995

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ROSANA HESSEL

A população menos favorecida do país está sentindo o impacto do dragão da inflação de forma mais intensa. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de setembro subiu 0,87%, dado bem acima da alta de 0,36% registrada em agosto. Este é o maior resultado para o mês desde 1995, quando o indicador de inflação dos mais pobres subiu 1,17%, conforme com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgados nesta sexta-feira (9/10).

Conforme os dados do IBGE, os produtos alimentícios subiram 2,63% em setembro enquanto, no mês anterior, a alta tinha sido de 0,80%. Já os não alimentícios apresentaram alta de 0,35%, após avançarem 0,23% em agosto.

No ano, o INPC registrou alta de 2,04% e, nos últimos 12 meses, avançou 3,89%, acima dos 2,94% registrados no mesmo período imediatamente anterior. Em setembro de 2019, o indicador havia registrado deflação de 0,05%.

Os dados do IBGE ainda mostram Campo Grande como a capital que teve maior alta do INPC, 1,59%, em setembro.  Salvador registrou a menor variação mensal, de 0,47%. Brasília, por sua vez, ficou em penúltimo lugar, com alta de 0,59% no mês.

O INPC faz a medição dos preços ao consumidor para as famílias com renda máxima de cinco salários mínimos (R$ 5.225) e é o indicador oficial para o reajuste anual do piso salarial. A alta de 0,87% de setembro ficou bem acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 0,64%, no mês passado, superando as expectativas do mercado. No acumulado em 12 meses, o indicador da inflação oficial registrou avanço de 3,14%.

Essa forte alta no INPC será um problema para o governo no Orçamento de 2021, pois o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) prevê um salário mínimo de R$ 1.067. O valor embute uma correção de 2,1%, mas tudo indica que a inflação ficará acima desse patamar. Não há espaço para novas despesas no Orçamento sem o descumprimento do teto de gastos –emenda constitucional que limita o aumento de desembolsos à inflação do ano anterior. Com isso, o governo ainda vai ter que buscar recursos para tapar esse novo buraco, principalmente, se a alta dos preços dos alimentos, não arrefecer e o INPC ficar perto de 4% até dezembro.

Considerando a alta de 3,89% no acumulado em 12 meses no INPC até setembro, o salário mínimo precisaria ser corrigido em R$ 41, passando dos atuais R$ 1.045 para R$ 1.086. Para cada real a mais nesse piso salarial, os gastos do governo com a Previdência aumentam, em média, R$ 350 milhões. Logo, o governo precisará de, pelo menos, R$ 6,6 bilhões a mais só por conta dessa variação na inflação que custará R$ 19 acima dos R$ 1.067 previstos no PLOA.

Vicente Nunes