Inflação dispara 1,01% em fevereiro, a maior taxa em sete anos

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ROSANA HESSEL

O consumidor deve preparar o bolso, porque o dragão da inflação está cada vez mais faminto. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) disparou em fevereiro antes mesmo do tarifaço da Petrobras nas refinarias, que entrou em vigor nesta sexta-feira (11/3). Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta do IPCA praticamente dobrou entre janeiro e fevereiro, passando de 0,54% para 1,01%.

O resultado ficou acima da expectativa da mediana do mercado do boletim Focus, de 0,89%, e tudo indica que a carestia continuará acelerando. Ontem, a estatal anunciou reajuste de 24,9% no preço médio do litro do diesel, elevou em 18,7% o preço da gasolina e em 16% o custo do gás de cozinha e analistas alertam que o impacto desse reajuste será sentido no IPCA de março e de abril, garantindo que a inflação continuará acima de dois dígitos quando a expectativa era de um início de desaceleração.

A alta de 1,01% do IPCA de fevereiro foi a maior variação para o mês desde 2015, quando o índice da inflação oficial subiu 1,22%. No segundo mês de 2021, a alta do indicador ficou em 0,86%. No ano, o IPCA acumula alta de 1,56% e, nos últimos 12 meses, avançou 10,54%.

De acordo com os dados do IBGE,  todos os grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em fevereiro. Mais da metade da alta (0,57 ponto percentual) do IPCA foi resultado dos reajustes das mensalidades escolares e da disparada dos preços dos alimentos, mas a carestia continua disseminada na economia, com índice de difusão passando de 73%, em janeiro, para 75% em fevereiro — mesmo patamar de dezembro.

O maior impacto no IPCA, de 0,31 ponto percentual, e a maior variação, de 5,61%, vieram do grupo Educação. Desse montante, 0,28 ponto percentual foi resultado do aumento de 6,67% dos cursos regulares, com destaque para alta de 8,06% para o ensino fundamental.

Na sequência, o grupo Alimentação e bebidas, com alta de 1,28%, acelerou em relação à elevação de 1,11% de janeiro, contribuindo com 0,27 ponto percentual da alta do IPCA. Essa alta foi influenciada pelo aumento de preços dos alimentos consumidos em casa, como a batata inglesa e a cenoura, cujos preços dispararam 23,49% e 55,41% em fevereiro. As frustras subiram 3,55%, variação próxima à do mês anterior, de 3,40%.  Por outro lado, foram registradas quedas nos preços do frango inteiro e em pedaços de 2,29% e 1,35%, respectivamente.

Os grupos Transportes, com variação de 0,46% reverteu a queda de 0,11% do mês anterior, e Habitação, com alta de 0,54%, também se destacaram. Os demais registraram 0,29% de alta do grupo Comunicação e a segunda maior variação do mês, de 1,76%, para Artigos de residência.

Revisões

O resultado ficou acima da alta entre 0,85% e 0,90% esperada pelo economista e especialista em índices de preços André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Ele prevê uma nova aceleração na inflação de março por conta dos reajustes dos combustíveis que passou a vigorar hoje e revisou de 6,2% para 7,5% a estimativa para o IPCA no fim do ano, após o anúncio da Petrobras ontem.

Pelas contas de Braz, apenas o reajuste dos combustíveis deve provocar um impacto de 0,75 ponto percentual no IPCA, que deve fazer com que a inflação oficial acelerar em março e em abril, em vez de desacelerar. “Mas esse é o efeito direto. Ainda existem os indiretos”, alertou, citando, por exemplo, o custo do frete, o aumento nas tarifas de ônibus e do custo de produção no campo com o uso do diesel nas colheitadeiras e tratores.

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, não descarta novas revisões no IPCA deste ano, apesar de considerar que o resultado de fevereiro veio dentro do esperado. “Devemos rever mais uma vez o IPCA de 2022, que já sofreu uma revisão para cima e, hoje, estamos com 6%. Mas nos parece razoável supor algo mais próximo de 6,5%. Com o IPCA de hoje e os desdobramentos dos últimos dias fica cada vez mais claro que o Banco Central deverá subir em 125 pontos base a Selic (taxa básica de juros) na próxima reunião (semana que vem)”, afirmou. Ele manteve em 13,25% a previsão para a Selic, atualmente em 10,75% anuais, no fim do ano.

Vicente Nunes