Ford Foto: Marco Antonio Teixeira/Agencia O Globo

Indústria recua 1,3%, em abril, e fica 1% abaixo do patamar pré-pandemia

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Um dia após o governo comemorar o resultado positivo do Produto Interno Bruto (PIB), que cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta quarta-feira (02/06), um dado que joga um balde de água fria nos ânimos do mercado. A produção industrial caiu 1,3% em abril na comparação com o mês anterior, na série com ajuste sazonal, fazendo o setor produtivo ficar 1% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020.

 

Conforme os dados do IBGE, a queda foi disseminada por 18 das 26 atividades pesquisadas. O resultado da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) de abril foi pior do que a mediana das previsões do mercado, que esperava recuo de 0,2%. Foi a terceira queda seguida da atividade industrial neste ano, acumulando desempenho negativo de 4,4% no período.

 

O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, reconheceu que os dados da produção industrial estão na contramão da onda otimista em relação ao desemprenho do PIB de janeiro a março . “Estes dados contrapõem-se aos dados do PIB do primeiro trimestre divulgados ontem e apontam que a recuperação econômica ainda é incipiente de certa forma”, destacou.

 

Para economistas da XP Investimentos, que acaba de revisar de 4,1% para 5,2% a projeção de crescimento do PIB deste ano, o dado da indústria o dado da produção industrial “decepciona em abril”, mas a instituição, que esperava queda de 0,4%, prevê recuperação nos próximos meses. A entidade prevê expansão de 8,5%. ” A recuperação robusta da economia global deve beneficiar as exportações de bens manufaturados, o que é particularmente positivo para as atividades de produtos alimentícios; produtos de madeira; couro e calçados; papel e celulose; metalurgia e outros equipamentos de transporte”, destacou a XP, em nota na qual reconheceu que os problemas na cadeia de suprimentos da indústria, com destaque para o setor automotivo, “permanecem como principal risco a ser monitorado nos próximos meses”.

 

Atividades com maiores quedas

 

Produtos alimentícios, derivados do petróleo e biocombustíveis foram as atividades que puxaram a queda na PMI de abril frente a março, segundo o IBGE. A produção de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis encolheu 9,5%, no mês passado, após alta de 1,9% em março. Já a indústria de produtos alimentícios recuou 3,4%, eliminando o ganho de 3,3% acumulado nos três primeiros meses do ano.

 

Outras contribuições negativas importantes da pesquisa vieram das áreas de impressão e reprodução de gravações (-34,8%), de produtos de metal (-4,0%), de couro, artigos para viagem e calçados (-8,9%), de celulose, papel e produtos de papel (-2,6%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-5,2%), de produtos têxteis (-5,4%) e de móveis (-6,5%).

 

Entre as oito atividades que apresentaram alta, os destaques foram as indústrias extrativas, com alta de 1,6%, com dois meses seguidos de expansão acumulando ganho de 7,4%. Máquinas e equipamentos apresentou alta de 2,6% em abril após recuar 0,8% em março. Veículos automotores, reboques e carrocerias, com alta e 1,4% interrompeu três meses de queda, mas acumula queda de 16,6%.

 

Na comparação com as categorias econômicas, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis apresentou queda de 0,9% em abril, a terceira consecutiva, acumulando tombo de 11,7%. O setor de bens intermediários, com recuo de 0,8%, anulou o ganho de 0,4% de fevereiro e março. O gerente da pesquisa, André Macedo, destacou que essas duas categorias “são as de maior peso na estrutura industrial”. Ele lembrou que, além de estar 1% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, o setor industrial “ainda se encontra 17,6% abaixo do nível recorde de maio de 2011”.

 

Em contrapartida, houve dados positivos para o setor de bens de capital (2,9%), que devolveram parte da queda de 10,4% acumulado entre fevereiro e março. O segmento de bens de consumo duráveis, com alta de 1,6%, interrompeu três meses seguidos de queda, com perda acumulada de 12,3%.

 

Alta histórica na comparação anual

 

Na comparação com abril de 2020, no auge da crise provocada pela pandemia da covid-19, a PIM apontou crescimento de 34,7%, a maior da série histórica iniciada em 2002. Foi a oitava alta consecutiva nessa base de comparação, de acordo com o IBGE, mas é um resultado que é minimizado por analistas porque a base é muito baixa devido à recessão do ano passado. Contudo, o dado, ficou abaixo do consenso do mercado, que esperava um salto maior, de 36,10% nessa taxa interanual.

 

Segundo os dados da PIM, o número de dias úteis foi igual em abril deste ano e de 2020. “Mas os resultados positivos elevados evidenciam a baixa base de comparação, já que em abril de 2020 o setor industrial recuou 27,7% (queda mais intensa da série), influenciado, naquele momento, pelo aprofundamento das paralisações em diversas plantas industriais, por causa da pandemia”, destacou a nota do IBGE.

 

O levantamento do órgão ainda apontou que, no acumulado do ano, a indústria registrou alta de 10,5% na comparação com o mesmo período de 2020, quando foi contabilizado avanço de 3,5%. No acumulado em 12 meses, após 22 taxas negativas, a PMI apresentou variação positiva de 1,1%.

 

Vale lembrar que a indústria compõe 17,7% do PIB e emprega mais de 10 milhões de pessoas e representa uma massa salarial de R$ 30 bilhões.