ROSANA HESSEL
As quedas nos setores de serviços, da indústria e do comércio, em outubro, superaram as previsões do mercado e indicam um viés de baixa no Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2021, de acordo com Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco. Apesar de prever um leve crescimento de 0,1% no PIB dos últimos três meses do ano, ele admite o viés é de baixa e, por conta disso, a previsão do banco de alta de 4,7%, neste ano, poderá ser menor.
“Esse conjunto (de indicadores negativos de outubro) coloca o PIB do quarto trimestre próximo de zero e gera um viés de baixa para a nossa projeção, para 4,5%”, afirmou Mesquita, nesta quarta-feira (15/12), durante análise da conjuntura macroeconômica em uma videoconferência com jornalistas. “Vemos o PIB andando de lado e, no quatro trimestre, pode ficar em zero ou até ser negativo”, afirmou.
O economista confirmou a previsão de queda de 0,5% no PIB de 2022, principalmente, devido à alta da taxa básica de juros (Selic), atualmente, em 9,25%. Ele espera mais duas altas na Selic no início do próximo ano, para 11,75%, patamar que deverá ser mantido até dezembro, afetando o crédito. “A perda de impulso do mercado de crédito, devido ao aumento dos juros, tem a principal contribuição negativa do PIB em 2022”, destaco.
Mesquita avaliou que o cenário macroeconômico é de estagnação da economia. Apesar de prever crescimento de 5% na produção agrícola no ano que vem, o analista alertou que isso não será suficiente para compensar os desempenhos da indústria e do comércio em 2022 para evitar um PIB negativo.
Nesta quarta-feira, o Banco Central divulgou queda no Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de outubro, de 0,4%. Esse indicador é conhecido como a prévia do PIB e esse novo recuo confirma a desaceleração econômica neste fim de ano após a queda do PIB em dois trimestres consecutivos, o que configura recessão técnica. Se houver queda no último trimestre do ano, o Brasil, oficialmente, estará em recessão.
Baixo crescimento
De acordo com as previsões do Itaú, além de apresentar baixas taxas de crescimento, o Brasil continuará crescendo menos do que o mundo e do que os demais países da América Latina, tanto em 2021 quanto em 2022. Chile e Peru devem liderar o crescimento na região, com saltos de 12% e de 12,5%, neste ano, respectivamente.
“O Brasil cresce menos do que os outros emergentes desde os anos 1980, desde o século passado. Em relação a este episódio da pandemia, o país cresceu menos, neste ano, porque caiu menos, no ano passado. Mas a vulnerabilidade fiscal é relevante para esse desempenho fraco do PIB brasileiro”, afirmou. “O país fez uma expansão fiscal forte e chegou na pandemia com dívida muito alta”, emendou.
Na avaliação de Mesquita, o pais tem o hábito de poupar muito pouco, e por conta disso, não tem folga para reagir em momentos de crise. “O Brasil, ,em geral, é melhor no enfrentamento das crises do que na prevenção. Com isso, pagamos um preço muito mais alto depois do que os demais países”, lamentou.
Contas públicas
Apesar de prever um cenário positivo para as contas públicas, neste ano, com chances de superavit primário no setor público consolidado, que inclui governos federal e regionais e estatais, a perspectiva é de piora a partir de 2022 e de volta de crescimento da dívida pública bruta, que passará de 82,1% do PIB, neste ano, para 85,6% do PIB, em 2022. A maior preocupação dos analistas do banco é com a perda da âncora fiscal, após a antecipação da mudança da regra do teto de gastos feita com a PEC dos Precatórios, que aumenta em mas de R$ 100 bilhões o espaço para o governo gastar mais no ano que vem sem qualquer medida de corte racional de despesas ineficazes do ponto de vista econômico e social.
“O fiscal está vindo melhor do que esperado neste ano, mas deixa um ponto de interrogação para frente por conta da flexibilização do regime fiscal e a da dúvida sobre o aumento de gastos não só em 2022, mas nos anos subsequentes. Será muito difícil para o governo repetir o resultado das contas públicas deste ano”, alertou o economista Pedro Schneider. Ele contou que o resultado positivo será puxado pelo superavit primário de estados e municípios e pela melhora dos resultados das estatais federais.