RODOLFO COSTA
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, conseguiu desagradar a gregos e troianos em uma única nomeação. O articulador político do governo indicou Giselle Pereira como assessora especial da pasta para fazer a interlocução com os caminhoneiros. O problema é que a nomeação, já publicada no Diário Oficial da União, não agradou a categoria dos transportadores, nem deputados do DEM e do PSL.
A indicada por Onyx é uma desconhecida entre as principais lideranças dos caminhoneiros. Tanto que o caminhoneiro Wallace Landim, mais conhecido como Chorão, um dos líderes responsáveis pela paralisação nacional em 2018, criticou a escolha em mensagem enviada por WhatsApp ao articulador do governo. A mensagem foi obtida pelo Blog e confirmada com outros representantes da classe como sendo do próprio Chorão.
O caminhoneiro dispara a Onyx que está “lavando as mãos” com a escolha, deixando claro não estar contente com a indicação. “Daqui pra frente, vocês vão ver o que vai acontecer. Quem tem que ser nomeado é alguém que seja da categoria. Não conte com nós para nada. Estou indignado. Estamos tentando falar com o senhor e não aceitamos essa mulher ser nomeada como articuladora dos caminhoneiros da Casa Civil. Peço compreensão com o senhor para que possa, pelo menos, me responder”, declarou.
A crítica de Chorão é sintomática. O caminhoneiro é um dos principais líderes da categoria que, embora não tenha ampla união, encontra nele um de seus porta-vozes mais influentes no governo. “Não contar” com Chorão e deixar que o governo veja “o que vai acontecer” são presságios do que pode estar por vir. O Executivo deu o prazo de 20 de julho para os caminhoneiros para cumprir com vigência do Documento de Transporte Eletrônico (DT-e).
Trava
O mecanismo é uma espécie de “trava” eletrônica que vai bloquear carregamentos abaixo do piso mínimo de frete. A promessa do governo é que, a partir de 20 de julho, os embarcadores serão obrigados a pagar o mínimo previsto na tabela. A emissão de documentos abaixo do valor serão travados eletronicamente. O não cumprimento desta tabela é, hoje, algo que poderia levar os caminhoneiros a uma paralisação. Os líderes, por sinal, atuaram para demover a ideia de uma greve nacional convocada por transportadores do “baixo clero” há pouco mais de um mês.
A falta de representatividade de Giselle junto aos caminhoneiros é, assim, uma ameaça para o governo. Também por ser um desafeto dos deputados Luis Miranda (DEM-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP). A indicada de Onyx afirmou em vídeos ter protocolado no início do ano uma denúncia acusando o demista de improbidade administrativa. Miranda entrou com requerimento na Corregedoria Parlamentar, que não identificou nenhuma denúncia. “Não foram protocolizados ou encaminhados denúncias, requerimentos, representações, ou quaisquer outros expedientes de natureza correcional em desfavor de Vossa Excelência”, informou, em ofício obtido pelo Blog, o chefe de gabinete da corregedoria, Alexandre Trindade de Souza.
A decisão do articulador do governo se mostra, assim, não apenas um equívoco técnico, mas, também, político. O demista e a pesselista são deputados próximos da liderança do governo. Miranda é um dos parlamentares que iniciou movimentos de proximidade ao Palácio do Planalto alertando para movimentações políticas de enfraquecimento ao presidente Jair Bolsonaro. E, mesmo sem o DEM ser da base governista, evitou, com articulação direta de Miranda, uma derrota na Comissão de Segurança Pública da Câmara, que debatia o convite do jornalista Glenn Greenwald.