Quando se pensa que o governo Dilma Rousseff, que se tornou sinônimo de incompetência, não tem como se superar nas trapalhadas, eis que consegue surpreender — para pior. Os últimos dias mostraram que uma simples ação, a de imprimir um boleto no site da Receita Federal para o pagamento de encargos trabalhistas, tornou-se um martírio. Pessoas de bem, cientes de seus compromissos, tentam, desesperadamente, pagar o que devem, mas são impedidas pela falta de respeito e pela burocracia. É esse Estado intervencionista e ineficiente que a petista defende.
Desde que tomou posse, em janeiro de 2011, Dilma deixou claro a opção por um Estado forte. Interveio em tudo o que pôde, criando distorções que estão custando muito caro à população. Prometeu, com suas ações equivocadas, responder aos anseios por serviços públicos melhores. O que se vê, no entanto, é uma situação de quase calamidade. Nada funciona a contento. A educação vai de mal a pior. A rede de saúde faliu. A segurança pública se transformou em motivo de piada diante da violência que assombra a todos. O sistema de transportes ruiu.
A dificuldade em se imprimir um boleto para recolher direitos trabalhistas de domésticas é um mal menor em meio a tantos problemas que assombram os brasileiros, mas dá a dimensão de como o modelo de Estado que temos hoje chegou ao limite. Ele é caro demais, absorve 36% de todas as riquezas produzidas pelo país sem que o retorno apareça. A impressão que se tem é de que funciona apenas para um grupo específico, aquele que, de alguma forma, pode garantir sobrevida ao governo, sobretudo quando se tem uma presidente fraca como Dilma.
Infelizmente, não dá para esperar nada de concreto que mude essa realidade perversa. Tudo no atual governo é mambembe, provisório. Veja o caso das guias de recolhimento das domésticas. A Receita gastou R$ 6,6 milhões para implantar um sistema que deveria ser simples. O dinheiro foi para o ralo e nada funciona. A saída foi editar uma portaria para estender o prazo a fim de que os patrões possam cumprir a lei. Tudo indica que, dada à ineficiência que se vê hoje, será necessário mais tempo para que tudo seja resolvido. Haja paciência.
Remendos
Em vez de improvisos, Dilma deveria estar trabalhando duro para tirar o país do atoleiro no qual o meteu. Como não o faz, as perspectivas para o Brasil só pioram. A cada indicador divulgado, o termo pior se tornou imprescindível. Foi o caso do tombo de 10,9% da indústria em setembro, queda sem precedentes desde 2009. Esse resultado só comprova que o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre será terrível e pode empurrar a retração da economia no ano para além de 3%.
A falta de ação da presidente e os erros quando ela age destruíram um bem precioso para qualquer nação: a confiança. Sem a reconstrução da credibilidade de quem está no comando do Palácio do Planalto, nada vai para a frente. Nem o remendo de ajuste fiscal que está dependendo de aprovação no Congresso. Nem a retomada dos investimentos produtivos. Nem as reformas que o país tanto precisa para deixar o Estado mais enxuto e eficiente e menos corrupto.
Essa falta de perspectiva compromete o futuro e amplia a desesperança. São muitos os relatos de pessoas comuns que se dizem desprotegidas perante a incapacidade do governo de indicar um caminho menos tortuoso para o país. As projeções mais otimistas mostram que, para sair o Brasil sair do buraco, serão necessários pelo menos mais dois anos sofrimento. Talvez o respiro coincida com o fim do mandato de Dilma, que corre o risco de sair pelas portas dos fundos do Planalto.
Derretimento
O mais impressionante é ver pessoas do primeiro escalão do governo vibrando com os resultados dos últimos dois dias do mercado, como se a crise que atormenta a todos tivesse desaparecido por um toque de mágica. Há, sim, uma brisa de esperança vinda do exterior, com a China agindo para manter o crescimento, a Europa injetando mais recursos na economia e investidores dispostos a botarem recursos no país — a francesa Coty acaba de despejar R$ 3,8 bilhões com a compra do segmento de cosméticos da Hypermarcas.
Mas esse quadro é instável demais. Bastou Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, afirmar que os juros na maior economia do planeta podem subir em dezembro para que o humor nos mercados mudasse. Os problemas do Brasil estão todos no Brasil. Há um governo incapaz de agir, uma presidente desesperada para garantir seu mandato, um presidente da Câmara que pode ser cassado, uma base aliada esfacelada que só quer tirar proveito do Estado, uma inflação resistente e um mercado de trabalho derretendo.
Brasília, 08h30min