Se fosse apenas pela economia, a presidente Dilma Rousseff já teria sofrido o impeachment há muito tempo. A cada dia, um novo indicador confirma a degradação das condições macroeconômicas do país. E, pior: não há perspectiva de recuperação à vista. Com o Congresso concentrado nas discussões sobre o possível afastamento da petista, medidas que vinham sendo analisadas por deputados e senadores serão postergadas. O buraco será muito mais fundo que o imaginado.
Como sempre acontece, são os mais pobres os que mais sofrem com o descalabro da economia. A inflação medida entre aqueles que ganham até 2,5 salários mínimos por mês atingiu, em 12 meses, inacreditáveis 11,22%. Os alimentos, que consomem quase 80% do orçamento desse grupo, estão em disparada e desaparecendo das mesas de muitas famílias. Do total de demitidos neste ano, quase 70% são trabalhadores menos qualificados, que não se recolocarão tão cedo no mercado.
Quando assumiu o mandato, em 2011, Dilma prometeu fazer um governo para os mais desfavorecidos. Garantiu que manteria o programa de inclusão social que, nos oito anos anteriores, havia agregado mais de 40 milhões de pessoas ao mercado de consumo. Passados cinco anos, porém, o quadro é totalmente o inverso. Dilma empobreceu os brasileiros, inviabilizou sonhos de muitas famílias, frustrou aqueles que acreditaram em um futuro melhor.
A petista, por arrogância e incompetência, deixou a inflação chegar de mansinho, como se fosse uma saída para que o nível de atividade ganhasse fôlego. Para ela, bastaria o governo continuar transferindo renda aos mais pobres que ninguém sentiria o peso da carestia. A inflação, no entanto, é peçonhenta. Quando chega, destrói o que vê pela frente. Acaba com o poder de compra dos trabalhadores e tira o horizonte de planejamento das empresas.
Com essa velha senhora não se brinca. Ela provoca a desconfiança. Para onde quer que se corra, não há saída. Somente os mais ricos, aqueles que têm dinheiro para aplicar, conseguem amenizar o impacto da alta do custo de vida. O resultado é o aumento das desigualdades sociais, a volta de pessoas que migraram para a classe média à pobreza.
Destruição em massa
O Brasil perdeu duas décadas — os anos de 1980 e 1990 — porque foi derrotado pela inflação. Com a estabilização dos preços a partir da segunda metade de 1994, foi-se construindo uma base sólida para que, a partir de 2003, o Brasil pudesse viver um longo processo de inclusão social. Dilma, contudo, dinamitou todas as pontes que nos levariam a dar um salto espetacular na próxima década. Reconstruí-las levará tempo.
A petista sabe que o pior da economia ainda está por vir. Em 2016, além de a inflação não dar trégua, as demissões vão se acelerar com o aprofundamento da recessão. O Produto Interno Bruto (PIB) deste ano cairá quase 4%. Em 2016, tombará mais 3%. Nesse ambiente, não há como uma presidente conseguir apoio para evitar o impeachment. Por isso, ela corre contra o tempo afim de resolver a peleja logo, enquanto as ruas ainda não foram tomadas. Diante do clamor pela interrupção do mandato da petista, não há base aliada que resista. Será muito difícil salvar uma presidente com tanta rejeição popular.
A forma como Dilma destruiu a economia esvazia qualquer argumento de que o país caminha para o golpismo, caso o processo de impeachment siga adiante. Não há como as pessoas aceitarem que a nação que se apresenta como a sétima do planeta continue afundando no atoleiro. A sobrevivência de governantes despreparados para os cargos se sustenta até que a parte mais sensível do corpo humano, o bolso, seja atingida em cheio.
Ministro poliana
O impeachment da petista pode ser inflado pelos ventos que varreram a família Kirchner do poder na Argentina e está prestes a pôr fim ao Chavismo que empurrou a Venezuela para o caos social e econômico. Dilma está tentando se sustentar no argumento de que não é ladra e nada tem a ver com a corrupção que devastou o caixa a Petrobras. Realmente, não há nada que comprove o envolvimento dela com malfeitos.
Mas, para a população, corrupta ou não, Dilma cometeu erros imperdoáveis na economia. Os brasileiros que puderam saborear as benesses da estabilidade não se conformam de ver a atividade se deteriorando de uma forma tão violenta. Recessões, o Brasil viveu aos montes. Sempre, com a perspectiva de recuperação rápida. Agora, as previsões são de pelo menos mais quatro trimestres de contração de PIB. Se confirmada tal estimativa, serão 10 trimestres seguidos de retração.
Manter a tranquilidade nesse clima é quase impossível. Por isso, a cada dia, a cada novo indicador mostrando a economia afundando, o impeachment fica mais próximo. E de nada adiantará o discurso bonito do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que o governo pode usar o momento adverso para aprovar as reformas adiadas por tanto tempo. Se, quando estava no auge da popularidade, Dilma não conseguiu fazer a revolução que o país tanto precisa, não será, neste momento, com a corda no pescoço, que terá apoio para medidas tão impopulares.
Levy, com seu discurso poliana, só confirma o fracasso em que se transformou desde que assumiu o comando da economia. Há um ano no posto, ele, no máximo, conseguiu a unanimidade de ser odiado pelo PT, o partido de Dilma. Com o impeachment ganhando força, o ministro deve se preparar para pegar o banquinho e sair de mansinho. Sobre os ombros dele estão recordes dos quais não há o que se orgulhar: a maior inflação em 12 anos, a pior recessão em quase três décadas e um rombo fiscal sem precedentes desde que o país abraçou a responsabilidade fiscal.
Brasília, 08h30min