ROSANA HESSEL
A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) continua não conseguindo reagir diante da expectativa de um aperto monetário mais forte nos Estados Unidos, a maior economia do planeta, e acompanha o compasso de queda das bolsas internacionais, chegando ficar temporariamente abaixo de 109 mil pontos.
Às 12h12 desta sexta-feira (16/9), o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, escorregava 0,93%, a 108.929 pontos, com as ações da Natura liderando as perdas, com 10% de desvalorização em meio às notícias de que a companhia negou o desmembramento dos negócios. Contudo, poucos minutos depois, apresentou uma leve recuperação, para 109.032, com queda de 0,84%. Na contramão, o dólar operava em alta e chegou a ser negociado a R$ 5,28.
“O mercado está antecipando o impacto da alta de juros nos EUA, na semana que vem. A Bolsa está acompanhando mais o cenário norte-americano”, destacou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, destacou ainda que, além da preocupação com o Fed, o mercado também ficou mais tenso após a inflação da Europa vir mais elevada, acumulando alta de 9,1% em 12 meses. “A inflação está mais pressionada nos EUA e o pico não foi superado. Soma-se a isso, alguma tensão com a aliança entre China e Rússia”, acrescentou. Ele não descartou as incertezas na agenda dos candidatos também estarem influenciando o tombo da B3 na semana. “Mas creio em maioria ser mau humor externo”, emendou.
Na próxima semana, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) tem nova reunião do comitê de política monetária (Fomc) e a expectativa do mercado é de uma alta de, pelo menos, 0,75 ponto percentual, elevando o intervalo dos juros básicos de 2,25% a 2,50% para 3,00% e 3,25% ao ano. As bolsas de Nova York seguem acumulando perdas e a Nasdaq, das empresas de tecnologia, lidera as quedas em Wall Street, com recuo de 1,6% no início da tarde.
O consenso de analistas é de que a B3 continua caindo por conta da piora do cenário externo, tanto que dados positivos, como a alta de 1,17% no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a prévia do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado ontem, não empolgou a Bolsa, que fechou ontem no vermelho.
“O crescimento se mostrou bem sólido e consistente. A sustentar, o bom desempenho do setor de serviços, com a reabertura da economia, maior demanda por serviços variados, tanto os presenciais, como para o turismo e aviação comercial”, destacou Hegedus, da Mirae.
Contudo, ele destacou que o pacote de medidas fiscais do governo, em pleno ano eleitoral, tem ajudado a turbinar a economia. “Com este pacote de bondades, todos os segmentos sensíveis. Os dados de atividade e inflação pelo mundo e por aqui levaram a forte alta dos juros”, afirmou ele, que prevê alta de 0,6% no PIB do terceiro trimestre.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, destacou que a queda nas Bolsas refletem a preocupação do mercado com a alta de juros na próxima semana, tanto do Fed quanto do Comitê de Política Econômica (Copom), do Banco Central brasileiro. Ele prevê alta de 0,75 ponto percentual, nos juros americanos, e uma elevação residual de 0,25 ponto percentual na taxa básica brasileira (Selic), para 14%. “O efeito da incerteza sobre as moedas e os indicadores de risco foi forte e manteve os preços dos ativos em queda”, alertou.