ROSANA HESSEL
O volume de vendas do comércio teve queda de 1% em maio, em relação a abril, que recuou 0,1%, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira (14/7), na série com ajuste sazonal da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC). O resultado foi pior do que o esperado pelo mercado — que esperava estabilização ou queda de até 0,3% nessa base de comparação –, em grande parte, refletindo o efeito da política monetária.
Na série da PMC sem ajuste sazonal, o comércio varejista também recuou 1% frente a maio de 2022, com a primeira taxa negativa após nove meses de altas. No acumulado dos primeiros cinco meses do ano, o crescimento foi de 1,3%, enquanto no acumulado nos últimos 12 meses até maio, a alta foi de 0,8%. O indicador de maio está 3,9% abaixo do pico de agosto de 2012, segundo dados do IBGE.
Na análise das oito atividades pesquisadas, quatro registraram taxas positivas e quatro, negativas. Entre as que registraram queda, destaque para o setor de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que recuou 3,2%, após apresentar crescimento de 3,6% em abril.
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, o volume de vendas caiu 1,1% na série com ajuste sazonal. A atividade de veículos e motos, partes e peças cresceu 2,1%, enquanto o setor de material de construção teve queda de 0,9%.
A média móvel trimestral foi de 0,1%. Na série sem ajuste sazonal, o varejo ampliado cresceu 3% frente a maio de 2022, quinto mês consecutivo de variações positivas.
No acumulando no ano, o comércio registrou avanço de 3,1%, na comparação com o mesmo período de 2022. No acumulado em 12 meses até maio, a variação foi de 0,2%.
De acordo com Matheus Pizzani, economista da CM Capital, a queda das vendas no varejo, apesar de ter surpreendido negativamente o mercado em termos de magnitude, “ficou em linha com as expectativas para o indicador em termos qualitativos”. “Quando analisado o comportamento dos principais grupos de sua composição, é possível ver que a retração de maio foi causada por quedas em grupos como móveis e eletrodomésticos e até mesmo tecidos, vestiário e calçados, componentes sensíveis ao ciclo econômico e consequentemente aos efeitos da política monetária do país”, afirmou. Ele lembrou que houve queda também no grupo de hiper e supermercados, de 3,2%, outra atividade com elevada participação na composição do resultado do varejo (50%), como uma “correção” do forte crescimento registrado em abril, de 3,6%. “Esse grupo não sofre necessariamente com os efeitos da política monetária, com sua demanda apresentando rigidez mãos acentuada ao longo do tempo”, destacou.
O analista ressaltou que o indicador de maio “ainda não contempla os efeitos da política de estímulo implementada pelo governo no setor automobilístico”. “Nas duas próximas duas divulgações, a expectativa é que a PMC apresente bons resultados em função do sucesso do programa de aquisição de automóveis. Considerando o ano de 2023, todavia, a perspectiva já não é tão positiva, com os efeitos da desaceleração econômica, aumento do desemprego e crédito ainda com custo elevado”, acrescentou.
De acordo com o economista Alberto Ramos, diretor de Pesquisas para América Latina do Goldman Sachs, as impressões mensais da PMI têm sido “muito voláteis devido à introdução de uma nova amostra mais ampla e ao fato de que os filtros sazonais mostram grandes descontinuidades em determinados intervalos”. Segundo ele, no futuro, a atividade de varejo deve continuar a se beneficiar de estímulos fiscais significativos do governo, como transferências fiscais federais para famílias de baixa renda com alta propensão a consumir, além da expansão da renda real do trabalho, da redução da inflação e da robusta renda agrícola. “No entanto, espera-se o enfraquecimento do impulso da reabertura econômica, condições monetárias e financeiras domésticas apertadas, altos níveis de endividamento das famílias, baixos níveis de ociosidade econômica, confiança fraca do consumidor e das empresas e a reviravolta no ciclo de crédito. para gerar ventos contrários à atividade de varejo e serviços nos próximos meses”, acrescentou.