“Erraram e vão errar de novo e vão errar de novo”, frisou Guedes, nesta terça-feira (22/2), durante a abertura do primeiro dia do evento CEO Conference, do banco BTG Pactual. De acordo com o ministro, haverá erros também nas projeções de crescimento da economia global, porque o Brasil “se adiantou” em relação aos outros países ao perceber a inflação mais alta “que veio para ficar” e o Banco Central antecipou a alta dos juros que ainda vai começar nos países desenvolvidos, que terão as suas projeções de crescimento “revisadas para baixo” não apenas por conta das tensões geopolíticas.
As previsões atuais do mercado indicam estagnação ou até mesmo recessão em pleno ano eleitoral, grande parte, devido à escalada dos juros para dois dígitos em 2022, acima de 12%, com inflação acima do teto da meta, de 5%.
“Houve uma revolução silenciosa no Brasil. Há muito “barulho político na superfície, mas,embaixo está acontecendo uma revoluçaõ” , afirmou ele, citando que o país tem contratado para os próximos 10 anos mais de R$ 800 bilhões de investimentos na área de infraestrutura, como reformas que foram feitas “fora do radar” durante a pandemia e que fazem do Brasil “uma fronteira de investimentos”. “O Brasil está condenado a crescer”, frisou.
O ministro lembrou que a pandemia foi a maior crise econômica desde a Grande Depressão e voltou a afirmar que há “desonestidade” dos críticos sobre a gestão dele e do governo. “Peço a honestidade intelectual dos críticos. O julgamento será da história”, afirmou.
De acordo com o ministro, as economias desenvolvidas tiveram crescimento alavancado enquanto o Brasil ficou estagnado durante “duas décadas”, e, por isso, as projeções de crescimento global serão revisadas para baixo. “Agora, (os países desenvolvidos) estão em desaceleração sincronizada e com inflação. E, nós, ao contrário, vamos reduzir a inflação e rever o crescimento para cima. Estamos em um caminho melhor”, afirmou. “”Vamos ver (os analistas) revisarem para baixo o tempo inteiro”, apostou.
Arrecadação
De acordo com Guedes, a economia brasileira continua crescendo e a arrecadação federal de janeiro, que deverá ser divulgada nos próximos dias pela Receita Federal, apresentou um crescimento real (descontada a inflação) de 16% . “A arrecadação que sai agora, daqui a dois ou três dias, treve 16% de crescimento real, Continua o ritmo de atividade forte”, disse.
Guedes reconheceu que o PIB brasileiro de 2021, que será divulgado no próximo dia 4 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve ter ficado abaixo de 5%. A projeção atual da equipe econômica é de alta de 5,1%, no PIB de 2021, e de 2,1%, no de 2022. Já a mediana das projeções do mercado está 4,5% e 0,3%, respectivamente. “Podíamos ter crescido 5%, se não tivéssemos retirado os estímulos (fiscais)”, afirmou. Ele reafirmou que o governo conseguiu manter o duplo compromisso de não faltar dinheiro para a saúde, mas com redução dos estímulos fiscais.
Guedes foi muito elogiado pelo ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, economista-chefe da instituição financeira na qual Guedes foi sócio, que participou da abertura ao lado do ministro fazendo perguntas .Em uma clara cumplicidae entre ex-chefe e ex-secretário, ambos afirmaram que houve “reformas silenciosas” na área econômica ao longo do governo de Jair Bolsonaro (PL).
Mansueto citou a reforma da Previdência como uma das mais importantes realizadas durante a gestão da qual ele participou durante um ano e meio. “Ao longo de quatro anos aguentou muita coisa, quebrou muita cabeça e pegou muitas brigas e a gente conquistou muita coisa”, disse o ex-secretário do Tesouro Segundo ele, houve conquistas “que não foram fáceis” e atribuiu a Guedes o mérito do congelamento de salários de servidores dos governos federal e regionais durante dois anos como pré-condição para os recursos emergenciais fossem liberados para estados e municípios, o que o ministro sempre classificou como uma espécie de reforma administrativa, porque evitou um aumento de R$ 160 bilhões em gastos com a folha.
O economista-chefe do BTG, por sua vez, destacou que essa medida foi fundamental para que os estados e municípios encerraram o ano de 2021 com R$ 170 bilhões em caixa, “que poderão ser transformados em investimentos” neste ano eleitoral e ainda previu que haverá queda dos gastos com pessoal neste ano para 3,7% do PIB, algo que nunca aconteceu durante um único mandato. Contudo, não fez nenhuma ressalva de que o PIB estimado hoje, se houver crescimento, será muito maior, em valores nominais, do que o de 2019 e, portanto, o total de gastos continuará crescendo, mesmo que por inércia.