Guedes se isola na Esplanada e, agora, só conta com servidores chamados de parasitas

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ROSANA HESSEL

Enquanto a ala política do governo tenta emplacar um novo Bolsa Família de R$ 400, o ministro da Economia, Paulo Guedes, volta a se encastelar no Ministério da Economia. Cada vez mais isolado, Guedes passa a contar, em sua equipe, apenas com os servidores de carreira nas secretarias especiais e no assessoramento — que o ajudam na tarefa de tentar preservar alguma dignidade na pasta que ocupa.

Depois da debandada na equipe econômica dos grandes nomes que compunham o governo no início da gestão, Guedes, agora, convive com poucos amigos no Ministério da Economia. Ironicamente, os servidores de carreira, aqueles que Guedes chamou de “parasita” são os que, hoje, têm ajudado o ministro nessa missão de tentar e ficam indignados com a manipulação do Orçamento de 2022 para fins eleitoreiros.

Por enquanto, o ministro tenta, mesmo que apenas no gogó, preservar o teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior –, mas é visível o desgaste do chefe da equipe econômica e dos esforços para manter. A regra vem sendo desafiada pela ala governista e pelos ministros que Guedes chama de “fura-teto”. A puxada de tapete mais recente é o novo Bolsa Família ou Auxílio Emergencial, que o presidente Jair Bolsonaro quer criar e que, se não for bem elaborado, vai criar despesas que vão estourar o teto e jogá-lo no chão.

O anúncio do novo benefício de R$ 400, marcado às pressas para ontem, foi adiado para hoje, sem pompa alguma, apenas para jornalistas. O ministro da Cidadania, João Roma, fez uma declaração decretando o fim do auxílio emergencial e o início do pagamento do Auxílio Emergencial a partir de novembro, mas não deixou muito claro o tamanho do custo do novo benefício. No Ministério da Economia, entretanto, o voto de silêncio continuava, e Guedes chegou a cancelar a a viagem e a agenda que teria em São Paulo.

O Ministério da Economia, aliás, já perdeu o status de superministério após o fatiamento para a criação do Ministério do Trabalho e Previdência, que foi entregue para Onyx Lorenzoni, que perdeu a chefia da Casa Civil para o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e precisava de um cargo, já que é um dos mais fiéis integrantes do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Enquanto isso, a popularidade do Posto Ipiranga do presidente Jair Bolsonaro, encolhe dia a dia.

Vale lembrar que o ministro da Economia não conseguiu cumprir as promessas, e, muito menos, cortar despesas para melhorar a qualidade do gasto público. O mérito da reforma da Previdência não é atribuído a ele, apesar de ele tentar cacifar-se por conta da proposta, pois o debate estava maduro desde o governo Michel Temer, ou seja, bastava ele estar na banheira para chutar para o gol.

Aliás, a fusão de cinco pastas para criar o Ministério da Economia, mostrou-se improdutiva, segundo fontes da Esplanada, porque a pasta ficou tão grande que, praticamente, tornou-se inadministrável. Muitos, inclusive, se sentiram aliviados com a saída das secretarias de Trabalho e Previdência, que tem muitos problemas. E, outra pasta que ainda não é vista com bons olhos pelos técnicos dos antigos ministérios da Fazenda e do Planejamento — que é onde houve sinergia –, é a do antigo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), chamada internamente de “sucursal da Anfavea”.

Vicente Nunes