O ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem mais condições de continuar no cargo. Só permanecerá na Esplanada dos Ministérios se não honrar a sua história. Está desmoralizado. Perdeu o comando da política econômica para o Centrão e foi engolido pelos planos de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
Os pedidos de demissão, nesta quinta-feira (21/10), do secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, do secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, da secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas, e do secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araujo, explicitam que o Ministério da Economia perdeu o rumo de vez.
A debandada da equipe de Guedes foi ganhando força à medida que ficou claro a fragilidade do ministro e o quanto ele era uma enganação ao prometer o mundo e não entregar nada. Quem não se lembra do discurso enfático de Guedes de que o governo faturaria R$ 1 trilhão com privatizações.
Pois praticamente nada foi vendido. Decepcionado, o empresário Salim Mattar, que assumiu a Secretaria de Desestatização com o intuito de enxugar o tamanho do Estado, logo abandonou o barco ao perceber que estava furado. Paulo Uebel e Wagner Lenhart, que desenharam a proposta de reforma administrativa, também saíram fora quando viram que o governo não queria levar adiante essa bandeira.
Waldery Rodrigues foi defenestrado da Secretaria Especial de Fazenda porque não aceitou ceder aos apelos por mais gastos feitos pelo Centrão. Guedes teve de entregar a cabeça de seu principal subordinado — e nem ficou vermelho. À época, o ministro alegou que Waldery já tinha cumprido sua “excelente missão” à frente da pasta.
Descontentamento geral
Nos últimos meses, estava escancarado o descontentamento dos integrantes do Ministério da Economia com Guedes. A ameaça de pedidos de demissões estava presente em muitas conversas diante da leniência do ministro com a questão fiscal. Guedes, na avaliação de muitos, virou um fura-teto.
O ápice para a mais nova debandada liderada por Funchal foi atingido após as declarações de Guedes de que o governo pediria “licença para gastar” com o intuito de bancar o Auxílio Emergencial, o novo programa social do governo, que substituirá o Bolsa Família.
O benefício mínimo será de R$ 400, bancados com recursos fora do teto de gastos, mecanismo que limita o aumento das despesas do governo à inflação. Funchal e equipe viram que o apoio de Guedes à aventura fiscal era o fim do compromisso com o austeridade. Tiveram a certeza de que era melhor sair do governo enquanto ainda tinham dignidade, a qual Guedes já perdeu há um bom tempo.
Brasília, 18h15min