Quando se ofereceu para integrar a equipe do então candidato Jair Bolsonaro, o economista Paulo Guedes esperava, finalmente, realizar um sonho acalentado havia 30 anos: comandar a economia do país. Com Bolsonaro eleito, o grande dia chegou. E com pompas e circunstâncias. Ele não assumiu apenas o sonhado Ministério da Fazenda. Levou, de quebra, cinco pastas que resultaram no Ministério a Economia.
Quase três anos depois, o Posto Ipiranga de Bolsonaro, o superministro, no qual empresários e investidores depositaram toda a confiança, tornou-se o símbolo do fracasso. Agora, sabe-se com clareza o porquê de ele nunca ter integrado nenhuma equipe econômica desde a redemocratização do país.
Guedes assumiu com um discurso cheio de promessas de tirar o Brasil do atraso. Bom de retórica, iludiu corações e mentes, as mesmas que acreditaram que Bolsonaro era a melhor pessoa para comandar o país. A política liberal que ele implantaria tornaria o Estado mais eficiente e o crescimento econômico seria consequência.
Com a mão amiga de Temer
No primeiro ano de governo Bolsonaro, Guedes se aproveitou de todo o trabalho feito por Michel Temer e conseguiu aprovar a reforma da Previdência sem o mínimo esforço. Todo o trabalho foi feito pelo então presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Com o teto de gastos, também herança de Temer, manteve as contas públicas sob controle, apesar de não ter cumprido a meta de zerar o deficit público em apenas 12 meses.
Também nesse primeiro ano de governo, nenhuma privatização foi realizada. Não se viu nada do R$ 1 trilhão que Guedes prometia arrecadar. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 fixou em módico 1,4%. Mesmo com esse fiasco, os agentes econômicos continuaram apostando tudo em Guedes.
Com a chegada da pandemia, o ministro da Economia, com sua soberba, demorou muito a agir. Como o chefe, acreditou que o impacto da crise sanitária seria mínimo. Quando viu o tamanho do estrago, correu para dar o suporte que os agentes econômicos precisavam. Logo depois, encampou o mantra de que o Brasil seria o país menos atingido pela pandemia e que a economia teria retomada em V.
Economia continua no limbo
Pois não só a economia continua no limbo, como o país enfrenta uma disparada preocupante da inflação, associada a desemprego acima de 14% e aumento substancial da pobreza. Para completar, o Banco Central vem subindo sistematicamente a taxa básica de juros (Selic), que está 5,25% ao ano. Já na próxima semana, saltará para pelo menos 6,25% e continuará aumentando.
Ou seja, com Guedes à frente da economia, o BC levará os juros para um nível muito maior do que o atual governo recebeu de Temer: 6,50% ao ano. O consenso é de que a taxa Selic feche o ano entre 8% e 9%. Mas ninguém descarta a possibilidade de o indicador chegar a 10% anuais. Já o crescimento previsto para 2022, ano de eleição, aponta para menos de 1%, projetam bancos e consultorias.
Diante desses números, dá para entender porque Guedes só conseguiu emergir como ministro num governo Bolsonaro. Pobre Brasil.
Brasília, 16h00min