ROSANA HESSEL
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que perdeu muitos amigos ao propor a tributação sobre dividendos que ele propôs na reforma do Imposto de Renda, que foi aprovada pela Câmara dos Deputados, mas está parada no Senado Federal por que, segundo ele, “lobistas” não tem interesse de que essa tributação, que financiaria o Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família e ainda não tem uma fonte de receita definida, como é previsto nas regras fiscais.
“Ninguém ficou feliz comigo. Eu certamente perdi muitos amigos”, disse Guedes, aos deputados, nesta terça-feira (23/11), durante audiência pública na Câmara dos Deputados. Segundo ele, 60 mil brasileiros ganharam mais de R$ 200 bilhões e não pagaram imposto sobre os dividendos, porque o “lobby é muito forte”.
Guedes agradeceu à Câmara por ter aprovado a proposta da reforma do Imposto de Renda, relatada pelo deputado Carlos Sabino (PSDB-PA) e aproveitou para alfinetar os senadores. “Aprovamos tudo o que pudemos para ajudar os mais pobres e tentamos tributar os mais ricos”, garantiu. “Não sou eu que tem amigos no mercado financeiro, porque derrubaram a nossa proposta para tributar 60 mil que ganham R$ 300 bilhões”, emendou.
O ministro participou de audiência pública em audiência pública conjunta das comissões do Trabalho e de Fiscalização Financeira para explicar os investimentos em paraísos fiscais. Guedes foi convocado para comparecer pessoalmente no Congresso sob o risco de cometer crime de responsabilidade, após vários cancelamentos de convites anteriormente feitos.
A líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Fernanda Melchionna (RS), rebateu as declarações de Guedes e disse que ele também atuou para eliminar a tributação sobre investimento em paraísos fiscais e “enriqueceu junto com os amigos” por conta da desvalorização do real frente ao dólar. “O senhor em julho deste ano trabalhou para retirar a tributação sobre offshores”, afirmou. Ela citou ocasiões em que o ministro fez lobby para tirar a taxação das offshores em eventos de banqueiros e de empresários.
Entre os defensores do Paulo Guedes, durante a audiência, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), afirmou que o ministro estava “perdendo o tempo” na audiência pública e leu uma nota do relator da reforma do Imposto de Renda, deputado Carlos Sabino, negou que Guedes tenha solicitado a retirada da tributação sobre offshores. O filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também criticou os parlamentares que fizeram os requerimentos para o comparecimento de Guedes nas comissões. “O senhor está perdendo seu tempo para prestar esclarecimento do óbvio”, disse.