ROSANA HESSEL
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que foi mal interpretado ao minimizar a crise hídrica, diante de um novo aumento na bandeira tarifária da conta de luz, e alegou que a frase “foi tirada do contexto” e ainda criticou a mídia, dizendo que há “militantes” que “distorcem tudo”.
“Temos riscos, sim da crise hídrica”, admitiu Guedes, nesta quinta-feira (28/08), durante evento virtual da XP Investimentos. Para minimizar a má repercussão da declaração, ele disse que há muitos “ruídos políticos” ” e que “militantes da imprensa” tiraram a frase dele do contexto. “É uma falsa narrativa. É um assassinato de reputação, falsificando narrativas e contando mentiras. Militantes da mídia convencional distorcem tudo. É uma pena”, disse. “Apesar dos excessos, eu confio na mídia”, acrescentou.
De acordo com Guedes, a frase foi dita em um evento para animar o lançamento da primeira Frente Parlamentar do Empreendedorismo e ele queria “celebrar o momento” com parlamentares e empresários. “Nessa celebração, eu dizia: Tem uma crise hídrica, mas, e daí? Vamos enfrentar. Era uma convocação para enfrentar a crise. Era um chamamento. Vamos enfrentar”, disse, enumerando que, primeiro, veio a pandemia, depois, veio a crise, e “o governo tem que lutar”.” Não podemos nos deixar abater”, emendou.
Frase infeliz
Ontem, durante o evento de lançamento da Frente Parlamentar na Câmara dos Deputados, ele disse que era preciso “tapar os ouvidos” para a gritaria por conta da antecipação das eleições e fez um questionamento sobre crise hídrica: “Qual é o problema agora se a energia vai ficar um pouco mais cara?”. Essa frase, no entanto, provocou reações negativas nas redes sociais e também entre os parlamentares da base governista.
Na ocasião, o ministro tentou minimizar o problema da crise hídrica, que vem sendo um dos principais motivos para a alta da inflação que vem tirando o sono dos brasileiros. Mas ele disse a frase infeliz no mesmo dia em que foi divulgado dados da prévia da inflação oficial, o IPCA 15, que, em julho, ficou acima das previsões do mercado e acumulou alta de 9,3% em 12 meses. Essa nova surpresa deve provocar nova onda de revisões para cima tanto para a inflação quanto para a taxa básica de juros (Selic).
De acordo com Paulo Guedes, ele conversou com os demais integrantes do governo para que o novo aumento na bandeira tarifária da conta de luz fosse gradual. “Eu sugeri moderação para ficar mais tempo em vez de subir muito de uma vez. Subindo a bandeira um pouco agora, é melhor para ajudar a repor (os níveis dos) reservatórios”, afirmou. A decisão sobre os novos valores da bandeira deverá ocorrer até o fim deste mês. Especialistas não descartam o risco de apagão ou de racionamento se não houver chuvas suficientes até outubro.
Durante a fala no evento da XP. o ministro aproveitou para alfinetar os governos anteriores na construção da usina de Belo Monte, que é a fio d’água no meio da floresta, a um custo bilionário” para agradar empreiteiras”. “Tinha lugar melhor para fazer isso e custaria menos”, alfinetou.