ROSANA HESSEL
O Greenpeace Brasil faz novo alerta sobre o aumento de queimadas na Amazônia, destacando o maior volume de focos de incêndio detectados nos últimos 14 anos. Segundo a entidade, com base nos dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) divulgados nesta quinta-feira (01/07), o mês de junho registrou o maior número de focos de calor na Amazônia desde 2007, na comparação com o mesmo mês dos anos anteriores.
De acordo com a entidade, os satélites mostram que foram registrados 2.308 focos de calor, “o que representa um aumento de 2,6% em relação a junho de 2020, quando já havia sido batido o recorde histórico”. “Infelizmente, esse recorde no mês de junho não é uma surpresa, considerando a continuidade da política antiambiental e a insistência na utilização de uma ferramenta cara como o envio de tropas militares, que se mostrou ineficiente nos últimos dois anos. Na verdade é mais uma estratégia para inglês ver, pois, além de ser por um período mais curto do que nos anos anteriores, o próprio decreto já avisa os desmatadores e grileiros onde irão fiscalizar nesse período”, comenta Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, no comunicado divulgado hoje.
Na avaliação da entidade, as sinalizações vindas de Brasília estimulam fortemente novos desmatamentos e invasões em terras públicas, como exemplo os projetos de lei da grilagem, o PL 2633/2020 e o PL 510/2021, que tramitam no Congresso e que visam flexibilizar os critérios da regularização fundiária, anistiando grileiros e estimulando novos desmatamentos. Além disso, há propostas que visam abrir terras indígenas para atividades predatórias, como o PL 490/2020.
O governo federal decidiu por meio de decreto, nesta semana, manter uma moratória do fogo e o envio de forças armadas e uma nova Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para combater o desmatamento e as queimadas na Amazônia, o que, para o Greenpeace é o mesmo plano que “fracassou de maneira incontestável” nos últimos dois anos.
Enquanto, no Hemisfério Norte, uma onda de calor vem se espalhando, deixando mortes, por conta do aquecimento global, o Greenpeace alerta que, no Brasil, para os próximos meses, “o cenário dificilmente será diferente do que vimos nos últimos dois anos” e ainda alerta para o aumento do risco hidrológico, uma vez que especialistas apontam para uma queda vertiginosa no nível dos reservatórios neste ano, que poderá atingir o menor patamar da história até novembro.
“Com números altos de queimadas ainda no começo do verão amazônico, meses onde há uma diminuição natural das chuvas na Amazônia, esses números tendem a subir ainda mais. Estamos vivendo uma emergência climática e a queima de florestas e outras vegetações nativas é a principal fonte brasileira de emissão de gases de efeito estufa que agravam ainda mais essa crise”, alertou a entidade que alerta como um dos reflexos dos desmatamentos e queimadas que todos já estamos sentindo é a alteração do regime de chuvas. “Os reservatórios para geração de energia e até mesmo para captação de água para consumo humano encontram-se em níveis historicamente baixos, causando risco de racionamento e aumento na conta de energia e no preço dos alimentos por perda de produção”, acrescentou.