Com sérias dificuldades para evitar o crescimento da extrema-direita na Europa, governos de diversos países, como Portugal, França, Alemanha e Espanha, mais voltados à esquerda e ao centro, não escondem a torcida para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, vença as eleições presidenciais no primeiro turno.
Em conversas reservadas, esses dirigentes acreditam que o melhor para o Brasil neste momento é que o candidato petista liquide a fatura logo no domingo, 2 de outubro, afim de conter uma radicalização ainda maior no país caso a disputa entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro vá para o segundo turno.
Há um incômodo enorme entre os governos mais moderados da Europa com a recente vitória do partido Irmãos da Itália, que bebe na fonte do fascismo, nas eleições italianas no último domingo (25/09). Essa conquista garantiu que Giorgia Meloni seja nomeada primeira-ministra da terceira maior economia da União Europeia.
Assessores de governos europeus dizem que uma derrota de Bolsonaro no Brasil servirá como um freio ao movimento de extrema-direita que avança em todas as regiões do mundo. Como diz um deles, será um importante recado aos europeus de que é possível reverter o radicalismo e as posições extremistas.
Bolsonaro e a família dele, especialmente o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o 03, têm fortes ligações com chefes de governo de extrema-direita, como os de Hungria e Polônia, e tendem a construir laços com Meloni, caso o brasileiro seja reeleito.
Força da democracia
Na visão de Portugal, França, Alemanha e Espanha, principalmente, um eventual governo Lula “baixará a bola da extrema-direita”, depois da vitória na Itália, e permitirá uma relação menos conflituosa da União Europeia com o governo brasileiro. Hoje, o diálogo está travado, muito mais por causa do Brasil.
Apesar da torcida pela vitória de Lula no primeiro turno, governos europeus temem um período de forte tensão política no Brasil. Mas não acreditam na possibilidade de um golpe militar, caso Bolsonaro seja derrotado nas urnas, pois, além da força das instituições brasileiras, falta apoio da comunidade internacional para esse ato inconstitucional.
Desde a retomada da democracia no Brasil, nunca os europeus tiveram tanto interesse nas eleições brasileiras. A determinação dos governos é para que todos os passos das votações marcadas para domingo sejam acompanhados com lupa, mas, claro, com toda a discrição para não criar constrangimentos.
“Há uma combinação entre vários governos para que, assim que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciar os resultados oficiais das eleições presidenciais no Brasil, sejam divulgados comunicados simultâneos parabenizando o vencedor, seja quem for. A Europa vai saldar a democracia brasileira”, afirma um integrante da União Europeia.
A perspectiva é que esses comunicados simultâneos parabenizem Lula, de preferência, com vitória no primeiro turno. Mas nenhum governo se furtará em saudar Bolsonaro caso a opção da maioria dos brasileiros opte por dar a ele um segundo mandato. “O importante é que se respeitem os resultados das urnas e a democracia brasileira seja a grande vencedora”, complementa a mesma fonte da UE.