Mesmo com todas as denúncias feitas pela deputada Joice Hasselmann, de que há um gabinete instalado no Palácio do Planalto para disseminar notícias falsas, o presidente Jair Bolsonaro não escondeu a satisfação com o novo recorde registrado nesta quarta-feira (04/12) pela Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Um golaço, como descreveu um auxiliar do presidente.
A Bolsa cravou os 110.301 pontos, com alta no dia de 1,23%, indicando, na avaliação do Planalto, que há uma disposição grande do mercado em apoiar o governo. Mas há uma ressalva entre os auxiliares de Bolsonaro. Eles se perguntam quando os investidores estrangeiros darão um voto de confiança ao Brasil.
Para o Planalto, não é justificável tanta saída de recursos do país. Somente na Bolsa, as retiradas de estrangeiros neste ano chegaram a R$ 38,7 bilhões, um recorde. Nem mesmo durante a crise mundial de 2008 e 2009 se viu tamanha fuga de recursos. Há um incômodo do capital externo em relação ao Brasil, que, por sinal, não participou do maior leilão de petróleo do mundo.
Técnicos do governo tentam minimizar a fuga de recursos da Bolsa. Dizem que esse movimento se repete em todos os países emergentes, que já não estão mais tão atraentes aos olhos do capital estrangeiro. Eles reconhecem, contudo, que a imagem do Brasil lá fora é péssima. Talvez a pior em pelo menos três décadas.
Contabilidade criativa
Dois técnicos do governo dizem ao Blog que voltaram “estarrecidos” de suas viagens ao exterior. Mesmo estando a trabalho, representando o país, ouviram relatos péssimos sobre o Brasil. Vários dos interlocutores diziam não entender como o Brasil chegou a um extremo tão preocupante, representado pelo governo Bolsonaro.
“Foi terrível. Tive que dar muitas explicações, pedindo para as pessoas separarem a economia das posições ideológicas do governo. Mas não foi possível”, relata um dos técnicos. “A percepção é de que o Brasil está caminhando para o fascismo, totalmente despreocupado com os direitos humanos e o meio ambiente. Isso é horrível”, acrescenta o segundo técnico.
Não bastasse a imagem já péssima, os investidores estrangeiros foram sacudidos pelas notícias publicadas no Financial Times, bíblia do mercado financeiro, de que o governo brasileiro está manipulando dados econômicos, recorrendo à contabilidade criativa. Do nada, apareceram bilhões de dólares em exportações, melhorando o saldo da balança comercial.
Esse tipo de coisa, admitem os técnicos, só pioram a imagem do Brasil no mercado internacional. “Certamente, o governo terá que arrumar justificativas muito consistentes para explicar o que, aos olhos dos investidores, está parecendo inexplicável”, afirma um importante funcionário da Esplanada dos Ministérios.
Brasília, 18h10min