O governo está convencido de que, com ou sem reforma da Previdência, a economia vai crescer em 2018. As projeções que circulam pelo Palácio do Planalto apontam avanço entre 2% e 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Quanto maior for o crescimento econômico, acredita o presidente Michel Temer, maior será o seu cacife para negociar apoio a um dos candidatos à Presidência da República. O Planalto crê que dois concorrentes de centro disputarão o aval do peemedebista, dono da caneta mais poderosa do país. Olhando para o que se tem hoje, um deles será o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Assessores do presidente vêm vasculhando todos os indicadores econômicos para medir o potencial de Temer como articulador das eleições. Eles reconhecem que há dados animadores, como os de inflação e juros, que estão em forte queda, mas dizem que ainda é muito cedo para apostar em uma arrancada, devido ao pé no freio dos investimentos. Como os empresários não deram respostas aos apelos do governo — não na proporção desejada —, o Planalto resolveu lançar o projeto Avançar, que prevê gastos de R$ 42 bilhões para retomar obras públicas inacabadas. É mais do mesmo.
Para um dos principais assessores de Temer, tudo está sendo meticulosamente estudado. “O presidente não será um mero coadjuvante no processo eleitoral. Ele é impopular, ainda continuará impopular por um bom período, mas, se a economia reagir, como esperamos, a articulação para uma candidatura de centro passará, sem dúvidas, pelo aval do Planalto”, diz. Esse mesmo assessor ressalta que um dos motivos para Temer não ter jogado a toalha em relação à reforma da Previdência é evitar que uma onda de desconfiança abata o mercado financeiro e azede de vez o humor do empresariado.
“Não estamos brincando em serviço. O nosso objetivo é construir um candidato de centro com chances de suceder Temer. E tudo indica que uma economia crescendo, com melhora na sensação de bem-estar, fará a diferença”, destaca um ministro com trânsito no Planalto. No entender dele, muita gente está desprezando essa força. “Os efeitos da queda dos juros ainda não se materializaram por completo na economia. Esse impacto ficará mais claro a partir do segundo trimestre do ano que vem, quando as eleições já estarão dominando o debate”, emenda.
Produção em alta
Se as projeções da economista Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macroeconômico da Fundação Getulio Vargas (FGV), estiveram corretas, o indicador econômico mais esperado pelo Planalto virá em breve. Pelos cálculos dela, os investimentos registraram crescimento de 0,4% no terceiro trimestre, interrompendo um ciclo de três anos de queda. Esse dado mostra que, depois do consumo das famílias, a retomada poderá contar com projetos de expansão da produção para ganhar mais dinamismo. Os investimentos vêm sendo puxados pelo setor de máquinas e equipamentos.
O governo sabe que, somente com a expansão do consumo das famílias, o PIB tenderá a decepcionar. Por isso, conta com os investimentos para ter o poder de fogo ampliado durante a disputa eleitoral. “Temos seguido à risca nosso cronograma. Fizemos o leilão de usinas hidrelétricas, vendemos poços do pré-sal e, agora, estamos lançando o Avançar. A agenda política não interferiu nisso”, afirma um integrante da equipe econômica. “Sabemos que os investidores estrangeiros estão mais otimistas com o país. Contudo, chegará o momento de o capital brasileiro ir atrás. E estamos próximos disso”, frisa.
O mesmo técnico reconhece, no entanto, que é preciso muita cautela. Na visão dele, há um otimismo exagerado em relação à inflação, que está baixa, girando em torno de 3% ao ano. Porém, à medida que a economia for crescendo e as empresas reduzindo a capacidade ociosa, haverá pressão sobre os preços. Por isso, o Banco Central deve ser muito cauteloso no processo de corte da taxa básica de juros (Selic). “Olhando para frente, não me parece muito seguro o BC reduzir a Selic além de 7%. Vão achar uma loucura o que estou dizendo. Mas, para o governo e a segurança do crescimento, é melhor não abusar da sorte”, conclui.