Governo precisa agir rápido para evitar queda maior que 4,4% do PIB

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ROSANA HESSEL

O presidente Jair Bolsonaro demorou para reconhecer o problema em relação à pandemia da Covid-19, provocada pelo novo coronavírus, e, agora, terá que pagar muito caro pela negligência. O pacote de medidas anunciado até o momento pela equipe econômica liderada por Paulo Guedes é muito tímido se comparado com as medidas tomadas pelas autoridades das maiores economias do planeta, que têm destinado até 20% do Produto Interno Bruto (PIB) para minimizar a recessão que já está contratada.

Para evitar uma queda maior no PIB, será preciso agir rápido e deixar o Ministério da Saúde investir o que for necessário para conter a epidemia, segundo o economista Emerson Marçal, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP). “Os recursos para a Saúde não podem ser limitados no combate ao coronavírus”, aconselhou. “O governo precisa adotar medidas parecidas com as que a Coreia do Sul adotou, rapidamente, testando toda a população. O custo parece alto agora, mas não será comparável à perda que o país vai ter no PIB”, alertou.

Marçal foi o coordenador de um estudo realizado pelo Centro de Macroeconomia Aplicada (Cemap), da FGV-SP, que fez três simulações sobre os efeitos do coronavírus no PIB brasileiro entre 2020 e 2023 e foi divulgado nesta sexta-feira (20/03).

Pessimismo

Pelas estimativas do Cemap, o PIB brasileiro poderá encolher 4,4% no cenário mais pessimista, o que equivale a uma perda de mais de R$ 320 bilhões neste ano, considerando o PIB de R$ 7,3 trilhões de 2019. “Se as ações do governo demorarem muito para conter o coronavírus, é provável que a retração seja maior e vamos ter uma situação semelhante à da Itália”, admitiu.

“O que vai definir o impacto na economia é como o governo vai agir. Se for rápido, o efeito será menor. Mas, se demorar, será muito pior”, explicou. Segundo o economista, os efeitos dessa pandemia vão ser sentidos nos próximos anos, dependendo da intensidade e do tempo em que ela demorar para ser dissipada.

Pelas estimativas mais otimistas do Cemap, que consideram os efeitos na economia brasileira parecidos com o da crise dos caminhoneiros de 2018, que durou apenas um mês, a variação do PIB seria zero neste ano. Já em um cenário levando em conta os impactos na economia parecidos com o da crise financeira global, de 2008 a 2009, o PIB teria uma queda de 2,5%.

No cenário pessimista, esses dois efeitos foram combinados. E, para Marçal, é o que está se tornando mais provável. “Estamos diante de um novo fenômeno na economia e o governo está no fio da navalha. Se cair do lado errado, o país vai enfrentar um cenário muito pior do que estamos prevendo”, alertou o professor.

Vicente Nunes