Governo partirá para o tudo ou nada na reforma da Previdência

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O Palácio do Planalto já escalou o time que partirá para o vale-tudo na batalha para aprovar a reforma da Previdência Social. O grupo será liderado pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e pelo secretário da Previdência do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, eles já estão municiado de números para tentar convencer a sociedade de que, do jeito que está hoje, o sistema previdenciário não resistirá muito mais tempo. O lema mais usado pelo governo será o que as futuras gerações poderão ficar sem o suporte do Estado no momento que elas mais precisarem.

“Será uma espécie de catequização”, diz um importante técnico da Fazenda. “A nossa meta será quebrar dogmas e ideias preconcebidas”, acrescenta. Pelos planos do governo, haverá atuação mais forte em grupos organizados, com forte estrutura corporativa e grande poder de manifestação, como os militares. “Sabemos que será uma guerra, mas estamos preparados para vencê-la”, ressalta. “Todos darão sua cota de sacrifício. Uns, mais; outros, menos.”

No caso dos trabalhadores mais jovens, de até 50 anos, as regras, se aprovadas pelo Congresso, valerão de imediato. E integralmente. Ou seja, se a idade mínima para aposentadoria for adotada, os homens só poderão pendurar as chuteiras aos 65 e as mulheres, aos 60 ou 62. Essa idade aumentará ao longo do tempo, até atingir 70 para homens e mulheres. “Não tem jeito. Esse grupo de trabalhadores mais jovens precisa permanecer mais tempo no mercado de trabalho para sustentar o sistema e garantir os benefícios daqueles que já se retiraram do mercado”, assinala. “Eles serão os principais atingidos pela reforma, não haverá escapatória.”

Pedágio

Já para os trabalhadores com mais de 50, haverá um pedágio de 40% ou 50% do tempo que ainda falta para a aposentadoria. Quer dizer: um trabalhador que está a cinco anos de se aposentar terá que contribuir por até mais 2,5 anos ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Trata-se de um sistema semelhante ao fator previdenciário que está em vigor hoje. Haverá apenas uma espécie de aprimoramento. “Há muito estigma em relação ao fator. Mas vamos explicar tudo, para que não se criem resistências”, afirma o técnico da Fazenda.

O governo está mesmo imbuído do propósito de unificar todos os sistemas de previdência. Mas também haverá regras de transição para servidores públicos, professores, policiais e militares. Tanto na Fazenda quanto na Casa Civil, acredita-se que são esses grupos que criarão mais problemas para a reforma da Previdência. “Eles são organizados, têm acesso à opinião pública, sabem gritar. E são ouvidos”, enfatiza um assessor de Eliseu Padilha. “Mas nós também sabemos falar alto e temos argumentos de sobra para provar o quanto a reforma da Previdência é importante para o país e para o bem-estar das próxima gerações”, emenda.

Um dos argumentos mais usados pelo governo será o de que, sem a reforma da Previdência, o país terá que aumentar, constantemente, a carga tributária. “Não haverá outra saída”, reforça o técnico da Fazenda. “A conta não fecha mais. No próximo ano, apenas o INSS terá rombo de quase R$ 150 bilhões. O buraco do sistema previdenciário dos servidores, incluindo os militares, encostará nos R$ 70 bilhões”, diz. Em 2018, esses números serão ainda maiores. “Para cobrir isso, só elevando impostos. Então, a sociedade que reclama que já paga tributos demais terá de escolher entre transferir mais dinheiro para o governo ou mudar a Previdência e estancar, ao longo do tempo, o aumento do deficit”, destaca. “São escolhas difíceis, mas teremos que fazê-las e aguentar as consequências”, conclui.

Brasília, 19h15min

Vicente Nunes