O estopim para a derrocada do governo foi a greve dos caminhoneiros, que explicitou a incapacidade do Planalto de se antecipar a crises. Antes da paralisação, já estava evidente que Temer havia perdido apoio no Congresso e não conseguiria aprovar quase nada de interesse do governo, sobretudo da equipe econômica.
Logo depois do estrago da greve dos caminhoneiros (a crise continua pesada, agora com a guerra em torno dos preços dos fretes), veio a informação de que o a Polícia Federal teria encontrado R$ 23,6 milhões em contas ligadas ao coronel da reserva João Baptista Lima , amigo pessoal de Temer, dentro das investigações sobre um decreto da área de portos que teria favorecido a empresa Rodrimar. Ressurgiu, portanto, a possibilidade de uma terceira denúncia contra o presidente na Câmara.
Agora, o governo está tendo que lidar com uma crise no mercado financeiro, que remonta a 2002, quando o temor dos investidores em relação ao que seria um possível governo Lula deixou um rastro de prejuízos no mercado. O dólar disparou e a bolsa de valores derreteu.
O maior medo do Planalto é de que, mesmo com a economia afundando e o desemprego em alta, o Banco Central seja obrigado a aumentar a taxa básica de juros (Selic) por causa da disparada do dólar. Nesta quinta-feira (07/06), a moeda norte-americana encostou nos R$ 4, ao bater em R$ 3,96 para venda.
Se a situação piorar, sobretudo por causa das eleições, com Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL) liderando as intenções de votos, o governo admite que o dólar pode ir a R$ 5. Nesse contexto, não haverá como o BC ficar de braços cruzados, com intervenções moderadas no câmbio. Há especialistas prevendo que a moeda norte-americana chegará a R$ 5,30 e que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá apenas 0,8% neste ano.
Assessores de Temer reconhecem que o governo está pagando o preço da desorganização e de não ter feito um ajuste fiscal de verdade. Este será o quinto ano seguido de rombo nas contas públicas. “Mas a maior parte da fatura vem das indefinições das eleições, sobre as quais o governo não tem qualquer controle. A indefinição do quadro eleitoral agrava a fragilidade do governo”, reconhece um técnico da equipe econômica.
Brasília, 16h15min