Genial/Quaest: Rejeição a Bolsonaro aumenta entre os mais pobres

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ROSANA HESSEL

A segunda edição da pesquisa qualitativa sobre as eleições de 2022 da Genial/Quaest revela que a rejeição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não teve alteração entre julho e agosto, mantendo-se em 44% entre julho e agosto. Contudo, a avaliação negativa do chefe do executivo aumentou entre os mais pobres, principalmente no Nordeste, e a tendência é piorar entre os mais ricos se a economia não apresentar uma recuperação de fato, pois ela será o fator decisivo nas urnas.

De acordo a pesquisa divulgada nesta quarta-feira (4/8), enquanto a rejeição ao presidente caiu no Centro-Oeste de 48% para 35%, entre julho e agosto, no Norte e no Nordeste, a avaliação negativa de Bolsonaro passou de 39% para 47% e de 49% para 56%, respectivamente. Na região Sul, única do país em que a aprovação a Bolsonaro supera a rejeição, a avaliação negativa de Bolsonaro passou de 34% para 31%. E, no Sudeste, a avaliação negativa do presidente recuou de 45% para 43%.

O cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Felipe Nunes, coordenador da pesquisa e CEO da Quaest, destacou que o levantamento deixou bem claro que a rejeição a Bolsonaro estar crescendo entre os mais pobres — a maioria da população. Contudo, a avaliação negativa do presidente ficou estável, porque a pesquisa tenta representar todos os substratos da sociedade de forma equilibrada, e, além disso, houve uma sensível melhora na avaliação do presidente entre os mais ricos e queda na rejeição entre residentes no Centro-Oeste, no Sul e no Sudeste, que acabou compensando o aumento a piora na avaliação do presidente no Norte e no Nordeste.

“Existe uma estabilidade no resultado global, mas percebemos que não houve melhora na avaliação do governo após a última reforma ministerial e a entrada de Ciro Nogueira (líder do Centrão) como ministro-chefe da Casa Civil”, destacou Nunes, em entrevista ao Blog. “Os mais ricos estão mais alinhados e satisfeitos como governo, enquanto os mais pobres estão insatisfeitos. E isso mudou no agregado, porque houve mudança de composição. As pessoas com renda alta estão mais otimistas com a recuperação da economia, o que é um perigo para Bolsonaro, porque, se essa perspectiva não se concretizar, a rejeição tende a aumentar também nessa faixa”, avaliou.

De acordo com Nunes, a pesquisa mostra que a economia será o fator decisivo para mudar o atual cenário de rejeição a Bolsonaro, para que ele tenha alguma chance de se reeleger em outubro de 2022.  “Um destaque da pesquisa é que a rejeição é maior ao comportamento de Bolsonaro e não ao governo, o que mostra que as atitudes polêmicas do presidente não são aprovadas pela maioria da população e isso deverá pesar no voto também”, alertou.

Lula continua liderando em todos os cenários

Em todos os cenários, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera a preferência, tanto no primeiro quanto no segundo turno e não há um candidato de terceira via capaz de mudar esse quadro. Foram testados nomes como Ciro Gomes, Sergio Moro, João Dória, Eduardo Leite, Henrique Mandetta e Datena e nenhum deles conseguiu ter força para ir para um segundo turno com Bolsonaro e Lula na disputa, com o petista à frente com 44% a 45% da preferência dos votos. Já Bolsonaro oscilou entre 27% e 29% da preferência. No segundo turno a vantagem de Lula é mais expressiva com 53% a 58% nos sete cenários avaliados.

“Lula tem uma rejeição menor do que Bolsonaro e, portanto, se esse cenário não sofrer alterações, ele seria eleito com folga”, destacou Nunes. Segundo ele, a terceira via continua sem espaço para viabilização, especialmente, porque os candidatos não são muito conhecidos pela população. Na média, a intenção de voto para presidente no segundo turno Lula manteve 54% da preferência e Bolsonaro, 33%.

Os indicadores, no entanto, mostram que a inflação cada vez mais alta deverá continuar persistente em 2022 e o desemprego não deverá cair no ano que vem, o que é um cenário nada animador para Bolsonaro que terá um grande desafio de conseguir votos entre os mais pobres.  Enquanto os eleitores do petista são de renda baixa, com 64% morando no Nordeste e 56% ganhando até dois salários mínimos,  dos que preferem Bolsonaro 45% ganha mais de cinco salários mínimos e moram no Centro-Oeste.

“A grande batalha de Bolsonaro será pelo voto da baixa renda, onde está grande disputa entre ele e Lula e ele pode recuperar a popularidade perdida se houver recuperação da economia e na percepção de bem estar. E, ao que tudo indica, o cenário econômico não deverá melhorar tão facilmente e isso será grave para o presidente”, alertou Nunes.

De acordo com a pesquisa, a economia piorou para 47% dos entrevistados, mas 31% deles esperam que ela melhore um pouco dentro de 12 meses. Outros 19% mais otimistas acham que deverá melhorar muito. Ao serem questionados sobre qual é o maior problema que o país enfrenta hoje, 23% responderam que é a pandemia e 16% o desemprego. A terceira maior preocupação, com 13% das resposta teve empate entre falta de atendimento na saúde e crise econômica.

O analista lembrou que é nessa fatia de eleitores pobres e do Nordeste que está a maioria das pessoas que preferem votar em Lula do que em Bolsonaro.  “Por isso, o governo está buscando usar o Bolsa Família e manter o auxílio emergencial para tentar reduzir a rejeição. Mas só conseguiremos saber se isso vai funcionar nas próximas pesquisas”, alertou. “Essa é a grande incógnita para as eleições. Certamente a economia será decisiva nas eleições. A dúvida é se o otimismo de hoje das classes mais alta de que a economia vai melhorar será reduzido em realidade. Atualmente, as projeções dos economistas não é essa”, destacou.

Diante da polêmica em torno da proposta do governo de adiamento no pagamento de precatórios para financiar o Bolsa Família poderá ser um fator negativo para o crescimento da rejeição ao governo entre os mais ricos na próxima pesquisa, no entender de Nunes.

A pesquisa ouviu 1,5 mil pessoas entre 29 de julho e 1º de agosto em 27 unidades da da federação tem uma metodologia diferenciada e que é ajustada periodicamente, com margem de erro de três pontos percentuais.

Vicente Nunes