ROSANA HESSEL
Enquanto a pandemia da covid-19 não dar sinais efetivos de controle e a vacinação no país não consegue deslanchar, os brasileiros reduzem suas realizar viagens internacionais de forma drástica, gastando mais de 60% a menos do que no ano passado. Com o dólar valorizado e vários países desenvolvidos começando a exigir comprovante de vacinação para permitir o acesso de estrangeiros, o brasileiro está se tonando um visitante indesejado se não conseguir se imunizar e deve reduzir ainda mais as despesas lá fora neste ano.
O volume de despesas de brasileiros no exterior somou US$ 1,161 bilhão de janeiro a abril de 2021, dado 63% abaixo dos US$ 3,135 bilhões contabilizados no mesmo período de 2020, conforme dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira (26/05). Vale lembrar que, em todo o ano passado, as despesas de brasileiros com viagens para outros países somaram US$ 5,3 bilhões, o menor volume desde 2005.
Os gastos de estrangeiros no Brasil também encolheram no quadrimestre, passando de US$ 1,6 bilhão, no ano passado, para US$ 857 milhões, neste ano, representando queda de 48%.
De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, essa forte queda nos gastos de viagens no quadrimestres é reflexo do fato de janeiro e fevereiro de 2020 ainda não terem registrado o impacto da pandemia. “É claro que o dólar valorizado tem efeito de reduzir os gastos de brasileiros no exterior, mas não é predominante. A dinâmica da pandemia, com restrições à mobilidade, também influencia e o efeito é predominante”, afirmou. Rocha destacou que os dados do BC mostram pequeno crescimento na comparação de abril, mês que foi mais afetado no ano passado pela covid-19.
No mês passado, as despesas de brasileiros no exterior somaram US$ 301 milhões, volume 48,3% superior aos US$ 203 milhões registrados emabril de 2020, quando houve maior impacto da pandemia na economia global, com vários países decretando lockdown, de acordo com os dados do BC na nota de estatísticas do setor externo. Os gastos de estrangeiros no país passaram de US$ 113 milhões para US$ 164 milhões na mesma base de comparação.
Os dados preliminares de maio mostram que os brasileiros gastaram US$ 223 milhões no exterior enquanto os estrangeiros deixaram US$ 134 milhões, resultando em um saldo negativo de US$ 89 milhões.
Melhora do saldo em conta corrente
O documento ainda mostra que o saldo da conta de transações correntes entre o país e o resto do mundo totalizou um superavit de US$ 5,7 bilhões em abril de 2021, dado 2.513% superior ao superavit de US$ 199 milhões contabilizado no mesmo mês de 2020. Foi o melhor saldo da série histórica do BC, iniciada em 1995, para qualquer mês, segundo Fernando Rocha.
Pelos cálculos do BC, o deficit em transações correntes somou US$12,4 bilhões, o equivalente a 0,84% do Produto Interno Bruto (PIB) no acumulado em 12 meses até abril. Esse dado é 30,7% inferior ao saldo negativo de US$ 17,9 bilhões (1,23% do PIB) contabilizado no mesmo intervalo até março de 2021 e 81,7% inferior ao deficit de US$ 68 bilhões (3,91% do PIB), em abril de 2020.
A melhora no saldo em transações correntes é resultado da melhora da balança comercial, impulsionada pelo dólar valorizado e pela alta dos preços das commodities. Os dados da autoridade monetária mostram ainda que abril registrou um superavit comercial recorde, de US$ 9,1 bilhões, ante superávit de US$ 4,9 bilhões em abril de 2020.
As exportações de bens totalizaram US$ 26,6 bilhões em abril de 2021, aumento de 50,7% ante abril de 2020. Já as importações cresceram 36,6%, somando US$ 17,5 bilhões. Contudo, vale lembrar que parte dessas importações são contábeis, ou seja, fictícias, de operações no âmbito do Repetro (regime especial do setor de petróleo), de US$ 290 milhões, em abril de 2021, e de US$ 1,1 bilhão, em abril de 2020.