FUNDO DO POÇO

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A presidente Dilma Rousseff ainda está muito longe de se dizer fortalecida no cargo. Para analistas que acompanham o dia a dia da economia, o grande teste ao qual a petista será submetida está sendo gestado e dará as caras no primeiro trimestre de 2016: o desemprego baterá em 10%.

Todos se perguntam como o governo lidará com esse número tão ruim. Desde o último domingo, o Palácio do Planalto vem tentando diminuir a força das manifestações que tomaram as ruas de mais de 200 cidades do país. Mas, com as demissões atingindo seu ápice, será difícil conter os movimentos que gritam pelo impeachment ou a renúncia de Dilma.

Se as projeções dos especialistas estiverem corretas, em pouco mais de um ano, o índice que mede a desocupação nas seis maiores regiões metropolitanas do país terá aumentado quase seis pontos percentuais — em dezembro de 2004, a taxa estava em 4,3%, nível mais baixo da história. Desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passou a fazer esse levantamento, nunca se viu uma alta tão expressiva do desemprego em um espaço tão curto de tempo.

“Veremos um quadro dramático”, diz um executivo de um banco estrangeiro. “Estaremos diante de uma combinação de desemprego com elevado nível de endividamento, um combustível poderoso para levar mais pessoas às ruas contra o governo”, acrescenta. “Será uma massa difícil de ser controlada. As pessoas estarão com a parte mais sensível do corpo atingida: o bolso”, emenda.

Na avaliação dos analistas, a presidente está buscando reconstruir uma ponte com sua base política, mas todos os avanços tenderão a ser detonados com a disparada do desemprego. Não se pode esquecer de que o auge das demissões deverá ocorrer às vésperas do fechamento das chapas dos candidatos a prefeitos. Ninguém estenderá a mão a um governo responsável por destruir uma conquista preciosa como o emprego, nem mesmo parlamentares do partido de Dilma, o PT.

As projeções para a economia nos próximos meses são as piores possíveis. Não à toa, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vem tentando incutir a ideia de que a retomada da atividade já começou, com uma ligeira melhora da indústria. Faz isso com o intuito de retomar a confiança no governo. Contudo, o fundo do poço não foi atingido. Empresas estão quebrando, trabalhadores perdendo os empregos e dívidas que foram assumidas pelas famílias deixando de serem pagas.

“É difícil dizer qual será o resultado de tudo isso e qual o tamanho do reflexo sobre o governo. Uma coisa é certa: a presidente Dilma não colheu nem a metade do que plantou nos últimos quatro anos, ao destruir os pilares da economia”, admite um técnico com trânsito no Planalto. “E não será um discurso bonito do ministro da Fazenda que pintará de rosa um quadro tão dramático”, complementa.

Traumas pesados

No entender dos especialistas, Dilma errou demais e reverter o estrago que ela fez será traumático para o país. Para Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora, é difícil acreditar que o governo terá sucesso na empreitada de vender ações da BR Distribuidora, da Caixa Seguridade e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) para reforçar o caixa e garantir o cumprimento da meta fiscal de 2016, de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

Ele ressalta que tais operações dependem, em parte, dos investidores estrangeiros, que estão fugindo de países emergentes, em especial, do Brasil. Muitos se deram mal nos investimentos que realizaram na bolsa de valores brasileira. Desde que Dilma tomou posse, o valor de mercado das companhias listadas no pregão paulista desabou.

No início de janeiro de 2011, todas as empresas valiam US$ 1,542 trilhão. Na última sexta-feira, estavam cotadas a US$ 616,4 bilhões. Houve, portanto, uma destruição de riqueza de US$ 925,7 bilhões. “Isso reduz o apetite pelo país, sem falar que as companhias brasileiras estão muito endividadas em dólar, reduzindo a qualidade dos ativos”, afirma Silveira.

Brasília, 10h10min