Funaro pode ter delatado dinheiro de Geddel

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PAULO DE TARSO LYRA

Juristas que acompanham os desdobramentos da Operação Lava-Jato suspeitam que a apreensão dos R$ 51 milhões em Salvador, num apartamento que teria ligação com o ex-ministro Geddel Vieira Lima, seja o primeiro efeito prático da delação de Lúcio Funaro. Além de o doleiro ter sido operador do PMDB, as datas são extremamente próximas. A colaboração premiada foi homologada pelo ministro Edson Fachin na terça-feira, 5, mesmo dia em que os agentes da PF, com base numa denúncia anônima, chegaram ao bunker milionário.

Se as suspeitas se confirmarem, são grandes as possibilidades de que parte dos recursos apreendidos pertença ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, ponto de intersecção de Funaro com Geddel. Cunha foi preso em outubro do ano passado, antes mesmo de Geddel deixar o governo, abatido por uma crise envolvendo o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero.

Existem divergências, contudo, sobre se a apreensão da montanha de dinheiro no imóvel baiano pode reverter a sentença de prisão domiciliar, sem tornozeleira eletrônica, contra Geddel. Para alguns advogados, o fato de o peemedebista ainda ser réu, não condenado, não o obriga a dizer a verdade. Para alguns magistrados, porém, o benefício da prisão domiciliar poderá sim, ser revisto. Para isso, bastam duas condições: a primeira é a comprovação de que o dinheiro tem ligação com o processo ao qual Geddel está respondendo, relativo à Operação Cui Bono? A segunda, se desvendarem que os recursos têm origem em prática criminosa.

“A investigação é conduzida pelo delegado Marlon Oliveira Cajado que, nas últimas semanas ouviu, entre outras pessoas, Lúcio Funaro. Um outro depoimento do doleiro já havia resultado na prisão de Geddel”

Em depoimento à Procuradoria da República em Brasília, Funaro disse ter entregado “malas ou sacolas de dinheiro” ao ex-ministro de Lula e Michel Temer. “Essas entregas eram feitas na sala VIP do hangar Aerostar, localizada no aeroporto de Salvador, diretamente nas mãos de Geddel”, declarou. Em agosto de 2017, o ex-ministro se tornou réu por obstrução de Justiça. Ele teria atuado para evitar a delação premiada de Funaro, que poderia implicá-lo em crimes de corrupção na Caixa Econômica Federal, instituição da qual Geddel foi vice-presidente na gestão de Dilma Rousseff.

Nesta quarta-feira, 06, o empresário Silvio Silveira se apresentou à PF e disse que “não sabia” que o apartamento estava sendo usado por Geddel para guardar dinheiro. Ele afirmou que o ex-ministro lhe pediu o imóvel emprestado para estocar “pertences do pai”, falecido em janeiro de 2016. Geddel ainda não se manifestou sobre a origem da fortuna a ele atribuída.

Ato contra corrupção

Em 2015, Geddel foi às ruas em ato contra corrupção. Taxativo, disse, na ocasião, à TV do Servidor Público (TVSP): “Ninguém aguenta mais tanto roubo”. Naquela época, Dilma Rousseff presidia o país.

“ Estou fazendo o mesmo que todo cidadão brasileiro que está indo para as ruas dizer que basta, que chega. Não se suporta mais um governo tão incompetente, incapaz de unificar o país, incapaz de nos tirar dessa crise econômica que faz com que o assalariado tenha seu salário comido pela inflação, com desinvestimento, obras públicas, que não avançam, um país que se desorganizou, perdeu respeitabilidade”, afirmou Geddel à época. “E dizer que chega, ninguém aguenta mais tanto roubo, isso deixou de ser corrupção, é assalto aos cofres públicos para enriquecer os petistas.” Ele só esqueceu de dizer que fazia parte da quadrilha que assaltava o país.

Brasília, 11h14min

Vicente Nunes