Se as suspeitas se confirmarem, são grandes as possibilidades de que parte dos recursos apreendidos pertença ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, ponto de intersecção de Funaro com Geddel. Cunha foi preso em outubro do ano passado, antes mesmo de Geddel deixar o governo, abatido por uma crise envolvendo o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero.
Existem divergências, contudo, sobre se a apreensão da montanha de dinheiro no imóvel baiano pode reverter a sentença de prisão domiciliar, sem tornozeleira eletrônica, contra Geddel. Para alguns advogados, o fato de o peemedebista ainda ser réu, não condenado, não o obriga a dizer a verdade. Para alguns magistrados, porém, o benefício da prisão domiciliar poderá sim, ser revisto. Para isso, bastam duas condições: a primeira é a comprovação de que o dinheiro tem ligação com o processo ao qual Geddel está respondendo, relativo à Operação Cui Bono? A segunda, se desvendarem que os recursos têm origem em prática criminosa.
“A investigação é conduzida pelo delegado Marlon Oliveira Cajado que, nas últimas semanas ouviu, entre outras pessoas, Lúcio Funaro. Um outro depoimento do doleiro já havia resultado na prisão de Geddel”
Em depoimento à Procuradoria da República em Brasília, Funaro disse ter entregado “malas ou sacolas de dinheiro” ao ex-ministro de Lula e Michel Temer. “Essas entregas eram feitas na sala VIP do hangar Aerostar, localizada no aeroporto de Salvador, diretamente nas mãos de Geddel”, declarou. Em agosto de 2017, o ex-ministro se tornou réu por obstrução de Justiça. Ele teria atuado para evitar a delação premiada de Funaro, que poderia implicá-lo em crimes de corrupção na Caixa Econômica Federal, instituição da qual Geddel foi vice-presidente na gestão de Dilma Rousseff.
Nesta quarta-feira, 06, o empresário Silvio Silveira se apresentou à PF e disse que “não sabia” que o apartamento estava sendo usado por Geddel para guardar dinheiro. Ele afirmou que o ex-ministro lhe pediu o imóvel emprestado para estocar “pertences do pai”, falecido em janeiro de 2016. Geddel ainda não se manifestou sobre a origem da fortuna a ele atribuída.
Ato contra corrupção
Em 2015, Geddel foi às ruas em ato contra corrupção. Taxativo, disse, na ocasião, à TV do Servidor Público (TVSP): “Ninguém aguenta mais tanto roubo”. Naquela época, Dilma Rousseff presidia o país.
“ Estou fazendo o mesmo que todo cidadão brasileiro que está indo para as ruas dizer que basta, que chega. Não se suporta mais um governo tão incompetente, incapaz de unificar o país, incapaz de nos tirar dessa crise econômica que faz com que o assalariado tenha seu salário comido pela inflação, com desinvestimento, obras públicas, que não avançam, um país que se desorganizou, perdeu respeitabilidade”, afirmou Geddel à época. “E dizer que chega, ninguém aguenta mais tanto roubo, isso deixou de ser corrupção, é assalto aos cofres públicos para enriquecer os petistas.” Ele só esqueceu de dizer que fazia parte da quadrilha que assaltava o país.
Brasília, 11h14min