Há um sentimento de frustração no Banco Central. A diretoria comandada por Alexandre Tombini vem preparando o terreno, mas não terá o prazer de anunciar a tão esperada queda da taxa básica de juros (Selic), que há nove meses está em 14,25% ao ano, caso o Senado aprove o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A expectativa era reduzir os juros no máximo a partir da reunião de julho do Comitê de Política Monetária (Copom). Mas, ao que tudo indica, o brinde será dado pelo comandante do BC que vier a ser anunciado por Michel Temer.
O tamanho da queda da Selic e a rapidez com que ela ocorrerá dependerá, no entanto, da política fiscal que Temer, se alçado à Presidência da República, anunciar. Hoje, o consenso entre os atuais diretores do BC é de que os juros ainda não caíram, mesmo com a gravíssima recessão na qual o país está mergulhado, por causa da gastança desenfreada comandada pelo Ministério da Fazenda. A farra nas finanças do governo afeta, principalmente, as expectativas futuras do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que insistem em ficar distantes das metas definidas em lei.
“Infelizmente, há uma grande nuvem cinzenta sobre o BC provocada pela falta de ajuste fiscal”, diz um importante técnico da instituição. Ele conta que parte dos subordinados de Tombini está aliviada com a perspectiva de o Senado afastar Dilma do poder. Na visão desse grupo, caso a petista permaneça no Palácio do Planalto, o Brasil mergulhará rapidamente na depressão econômica, devido à total incapacidade dela de resgatar a confiança dos agentes econômicos. “Há a frustração em relação aos juros, mas há, também, o sentimento de que, com o governo atual, tudo será pior”, frisa.
Risco de calote
A aposta dentro do BC é de que, com Henrique Meirelles ou Murilo Portugal à frente da Fazenda, o governo resgatará o projeto de ajuste fiscal defendido por Joaquim Levy, que foi defenestrado do ministério por defender a arrumação mais rápida das contas públicas. A razão é uma só: não há outra saída. Se, já na largada, a administração Temer não mostrar compromisso com a geração de superavits primários (economia para pagamento de juros) a fim de conter a explosão da dívida pública, ela perderá todo o respaldo de empresários e investidores.
Com Dilma, as projeções para as contas públicas são assustadoras. A aposta do mercado é de rombo de R$ 100 bilhões neste ano e de pelo menos R$ 120 bilhões em 2017. Isso significaria dizer que, em quatro anos, a partir de 2014, quando o governo fez o diabo para reeleger a petista, o Brasil acumulará deficit de quase R$ 334 bilhões — isso, sem falar dos gastos com juros. Não há economia que se sustente com um buraco tão grande nas contas públicas. A tendência, nesse contexto, seria de o país caminhar rapidamente para o calote.
Portanto, se realmente chegarem ao poder, Temer e a futura equipe não poderão se omitir diante desse quadro caótico. Não haverá espaço para discursos bonitos com objetivos eleitoreiros. Foi justamente a postura leniente de Dilma com a gastança que levou a economia ao estado deplorável em que se encontra. A fatura, porém, chegou. Por tentar esconder as estripulias que estava cometendo por meio das pedaladas fiscais, a presidente está prestes a perder o mandato. Partiu do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do então secretário do Tesouro, Arno Augustin, o golpe do qual a petista se diz vítima.
Pacote externo
Como o Tesouro está com o caixa esfacelado, uma das medidas que vêm sendo debatidas pela equipe de Temer é a busca de um financiamento externo de pelo menos US$ 6 bilhões. A operação está sendo discutida com Armínio Fraga, que recusou o convite para assumir o Ministério da Fazenda no eventual governo do peemedebista. Esse dinheiro seria usado, sobretudo, para obras de infraestrutura, abandonadas pela atual gestão. Os investidores estrangeiros, na avaliação de Armínio, estariam dispostos a injetar recursos no país em caso de mudança de governo.
As ações de Temer, contudo, demorarão a aparecer. Ainda se verão quedas do Produto Interno Bruto (PIB) por pelo menos mais três trimestres, dado o estrago da atividade. Somente em 2017 é que se verão os primeiros sinais da retomada da economia. Tudo isso, no entanto, não passa de desejo e projeções. Antes de mais nada, o peemedebista, chamado em alto e bom som no Palácio do Planalto de “traidor”, terá que mostrar que é capaz de fazer o que precisa ser feito. Além de um plano econômico consistente, precisará de capital político.
Diante da comoção que se vê hoje no país, as próximas três semanas que o presidente do Senado, Renan Calheiros, diz serem necessárias para votar o impeachment terão ares de eternidade. Tomara que tenhamos maturidade para aceitar o que o destino nos reserva.
Brasília, 03h30min