FRACASSO DO FRACASSO

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Diz o ditado popular: nada está tão ruim que não possa piorar. Pois a sabedoria que vem das ruas nunca valeu tanto para o governo de Dilma Rousseff. Em apenas um mês, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, aumentou a previsão de rombo nas contas públicas deste ano em R$ 36,4 bilhões. Em vez de um buraco de R$ 60,2 bilhões, ele prevê, agora, deficit de até R$ 96,6 bilhões. Tudo indica que, nos próximos meses, esse descalabro nas finanças do país só aumentará.

 

As contas públicas são o reflexo de todos os erros que o governo cometeu na economia. À medida que Dilma permitiu a volta da inflação, destruiu a credibilidade do Banco Central e recorreu às pedaladas fiscais para esconder uma gastança desenfreada, abalou um ponto nevrálgico do país: a confiança. Empresas e consumidores se assustaram com todas as estripulias cometidas pela Palácio do Planalto e reduziram a produção, os investimentos e o consumo.

 

O resultado disso todo mundo sabe: o Brasil mergulhou na mais grave recessão de que se tem notícia em quase 100 anos. Sem produzir e com as vendas em queda, as empresas reduziram substancialmente o volume de impostos recolhidos ao governo. Com o aumento do desemprego, milhões de trabalhadores deixaram de ter rendimentos sobre os quais incidem o Imposto de Renda. Os tributos em queda escancararam o quanto as finanças do país foram tratadas com descaso, baseado no pensamento de que dinheiro é capim.

 

Sucessão de rombos

 

O quadro é tão preocupante que gente séria da equipe econômica admite que, dificilmente, as contas públicas voltarão a registrar superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) até 2018. Se confirmada tal previsão, serão cinco anos de finanças no vermelho. Por isso, todas as projeções apontam para um aumento espetacular do endividamento público em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Quando Dilma assumiu em 2011, a dívida representava 52% do PIB. Está, agora, em 67%, e pode ir a 80% nos próximos dois anos.

 

Mas como o governo não é muito chegado a encarar a realidade, prefere recorrer a maquiagens. E já está trabalhando para dar a falsa impressão de que, em vez de subir, a dívida cairá. Na segunda-feira, o ministro da Fazenda apresentou um pacote de medidas que ele chama de “reforma fiscal”. Além de instituir a licença para gastar, o pacote prevê a criação de uma conta remunerada administrada pelo Banco Central. Nela, serão despejados os recursos que a autoridade monetária retira do mercado todos os dias para evitar mais inflação.

 

Hoje, o enxugamento de liquidez, como se diz no jargão do BC, é feito por meio da venda de títulos públicos que estão na carteira da instituição. Esses papéis representam 16% do PIB, cerca de R$ 1 trilhão. São computados como dívida, como deve ser. Pela proposta de Barbosa, em vez de o BC fazer as tais operações compromissadas, que têm vencimento médio de três meses, os recursos retirados do sistema financeiro iriam para a conta remunerada. Com isso, os 16% de dívida, ao longo do tempo, virariam zero. E os débitos totais desabariam para 50% do PIB.

 

A medida é defendida pelo presidente do BC, Alexandre Tombini. Vários bancos centrais a adotam. O problema é que, no Brasil de Dilma, a conta remunerada pode se tornar mais uma manobra para esconder a grave situação fiscal. Diante de todos os erros que o governo cometeu, ninguém quer dar mais um voto de confiança. As agências de risco, que já retiraram a chancela de bom pagador do país, acenderam o sinal de alerta. E o mercado voltou a temer o calote.

 

Derrota da esperança

 

Dilma, como se tornou rotina nos últimos dias, classifica tudo como golpe. Ontem, com o impeachment cada vez mais próximo, ela disse que o desemprego de 8,2% computado em fevereiro nas seis principais regiões metropolitanas do país ainda é menor do que na era Fernando Henrique Cardoso. Esqueceu-se, contudo, de dizer que foram as escolhas erradas que ela fez que estão expulsando milhões de pessoas do mercado de trabalho.

 

A presidente afirmou também que a inflação está caindo. Realmente, as prévias de março mostram índice menores, mas, no acumulado de 12 meses, a carestia continua rondando na casa dos 10%, destruindo o poder de compra das famílias e ampliando as desigualdades entre ricos e pobres. A petista assegurou que o governo está trabalhando para reverter o desemprego e a carestia. Desde que ela tomou posse, no entanto, fez exatamente o contrário: estimulou a alta do custo de vida e uma leva de demissões.

 

O certo é que, com a sequência dos equívocos, como insistir no desajuste fiscal, o governo levará o país rapidamente para a depressão econômica, quadro com o qual nunca se deparou. Nele, o caos social estará instalado. E encontrar a porta de saída implicará em deixar muita gente de joelhos no meio do caminho. O medo terá, definitivamente, derrotado a esperança.

 

Brasília, 09h41min