ROSANA HESSEL*
Às vésperas da 11ª Cúpula do Brics, grupo de países emergentes integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que será realizada em novembro no Brasil, participantes do 4º Fórum de Mídia dos Brics, defendem a cooperação entre os países, desenvolvendo uma plataforma comum. Contudo, nos painéis de debate não havia representantes do governo brasileiro.
Apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter acabado de voltar de uma viagem a cinco países, incluindo a China, o governo federal não enviou um representante buscando estreitar laços de informação entre os países do grupo. Debatedores e integrantes da plateia destacaram essa ausência ao longo do evento realizado nesta quarta-feira (31/10), em São Paulo, principalmente aguardando um posicionamento do governo em meio à guerra comercial entre Estados Unidos e China e à forte propagação de notícias falsas nas redes sociais. Segundo a organização, havia “outros compromissos agendados” dos convidados de autoridades.
E, aproveitando o vácuo do governo federal e da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), o presidente da TV Cultura, José Roberto Maluf, deu seu recado. “Estamos dispostos a fazer o jornal do Brics”, disse Maluf, durante o evento como um exemplo de cooperação no grupo das economias emergentes. “Vivemos uma nova cultura midiática, interativa e colaborativa”, ressaltou. Na avaliação de Maluf, a imprensa tem um papel importante no desenvolvimento de um povo e da sua cidadania. Ele ressaltou ainda que é “fundamental o acesso à informação livre e independente para a criação de políticas públicas”.
Essas declarações foram interpretadas como uma estratégia em curso do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), para as eleições presidenciais de 2022. Dória foi à China antes de Bolsonaro, em agosto, para instalar um escritório comercial em Xangai para atrair investidores para o estado e já anunciou que pretende retornar levando governadores do Sul e do Sudeste como convidados, lembrou um participante do Fórum.
A China, segunda maior potência do planeta, segundo os debatedores, vem ameaçando a hegemonia dos Estados Unidos na economia global e Bolsonaro “já escolheu um lado nessa guerra comercial”, de acordo com os debatedores que criticaram a ausência do governo no Fórum.
Ao defender a cooperação, o editor-chefe da Agência de Notícias Xinhua e presidente-executivo do Fórum, He Ping, ressaltou que as novas tecnologias midiáticas estão mudando profundamente o jornalismo. Segundo ele, a Xinhua vem desenvolvimento ferramentas que poderiam ser compartilhadas, como uma que gera vídeo para um clipe em seis segundos e outra que tem um apresentador de notícias virtual em várias línguas. “Há um grande espaço para cooperação e estamos dispostos a desenvolver esses mecanismos”, destacou.
O compartilhamento de base de dados entre os países do Brics, assim como a cooperação na capacitação dos profissionais entre os cinco países foram alguns exemplos de parceria citados pelos debatedores nos painéis. Eles também destacaram na necessidade do fortalecimento das redações, usando tecnologias para combater as notícias falsas, e, além disso, buscar alternativas para multiplicar os efeitos da cooperação.
Participaram do Fórum representantes de 55 mídias dos cinco países, de acordo com He Ping, “o maior público desse evento”. “Queremos fazer uma comunidade Brics com futuro em comum e precisamos aproveitar essa tendência do mundo de multipolaridade”, disse. O presidente do Grupo CMA, José Juan Sanchez, destacou os pontos plano de ação do Fórum, como assumir a responsabilidade social e promover laços entre as pessoas e ainda defendeu a união de forças para uma cooperação ativa. “Informação é poder. É preciso saber lidar com isso”, ressaltou.
Origem
O termo Brics nasceu em 2001 no mercado financeiro, a partir de um anagrama com as iniciais dos países emergentes de crescimento rápido cunhado pelo economista Jim O’Neill, Goldman Sachs. Em 2006, o grupo começou a ganhar contornos políticos quando os chanceleres de Brasil, Rússia, Índia e China começaram a se reunir informalmente em grupos de trabalho à margem da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em busca de diálogos de cooperação.
A primeira cúpula com chefes de Estado do Bric foi realizada em 2009, em Ecaterimburgo, na Rússia. A África do Sul, foi incluída formalmente em 2011, adicionando o “s” ao anagrama. Entre os resultados, estão o lançamento das duas primeiras instituições do mecanismo: o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e o Arranjo Contingente de Reservas (ACR).
A 11ª Cúpula do Brics será realizada em Brasília nos dias 13 e 14 de novembro, no Palácio do Itamaraty. O lema do encontro será “Brics: crescimento econômico para um futuro inovador”. No ano passado, o evento ocorreu em Joanesburgo, na África do Sul.
*a jornalista viajou a convite da Xinhua