A crise entre o presidente da República e os militares atingiu seu ápice nesta semana, diante do embate de Bolsonaro com seu vice, general Hamilton Mourão, o qual, segundo o chefe do Executivo, só não sairia do governo porque era “indemissível”, e diante das declarações de que o Brasil poderia recorrer à pólvora em caso de enfrentamento com os Estados Unidos. As Forças Armadas viraram motivo de chacota.
O descontentamento dos militares em relação a Bolsonaro ficou claro nas recentes declarações de generais, seja em eventos públicos, como foi o caso de Pujol, que indicou que a política não pode entrar no Exército, seja por meio das redes sociais. O general Santos Cruz, que foi ministro no atual governo, disse que o presidente deveria “parar com o show” e ser menos “arrogante”, no que foi acompanhado do general Paulo Chagas.
Quem acompanha os bastidores das Forças Armadas e do governo afirmam que os dois lados resolveram baixar a guarda para uma boa convivência. Mas não se sabe até quando a trégua será mantida. Os defensores de Bolsonaro nas redes sociais, incluindo os filhos do presidente, não parecem dispostos a reduzir o ataque que vêm fazendo contra os militares. Portanto, o estranhamento tende a continuar.
Veja a íntegra da nota assinada pelo ministro Fernando Azevedo e os chefes das Três Forças:
“A respeito de recentes publicações e especulações envolvendo o Governo e as Forças Armadas, o Ministro de Estado da Defesa e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica esclarecem que:
– A característica fundamental das Forças Armadas como instituições de Estado, permanentes e necessariamente apartadas da política partidária, conforme ressaltado recentemente por chefes militares, durante seminários programados, é prevista em texto constitucional e em nada destoa do entendimento do Governo e do Presidente da República;
– O Presidente da República, como Comandante Supremo, tem demonstrado, por meio de decisões, declarações e presença junto às tropas, apreço pelas Forças Armadas, ao que tem sido correspondido;
– O único representante político das Forças Armadas, como integrante do Governo, é o Ministro da Defesa;
– Os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, quando se manifestam, sempre falam em termos institucionais, sobre as atividades e as necessidades de preparo e emprego das suas Forças, que estão voltadas exclusivamente para as missões definidas pela Constituição Federal e Leis Complementares;
– As Forças Armadas direcionam todos os seus esforços exclusivamente para o cumprimento de suas missões, estando presentes em todo o País. Atualmente, atuam no combate ao novo coronavírus (Operação Covid-19), inclusive com apoio às comunidades indígenas; no combate aos crimes ambientais, ao desmatamento e às queimadas na Amazônia (Operação Verde Brasil 2); no acolhimento e interiorização de refugiados da crise na Venezuela (Operação Acolhida); no combate aos crimes transnacionais (Operação Ágata); no apoio às eleições 2020 (logística e garantia da
votação e apuração); no apoio à população do Amapá, em função da recente crise gerada por falta de energia elétrica; em ações humanitárias e sociais, como a Operação Carro-Pipa (que leva água a milhões de pessoas atingidas pela seca), o atendimento médico hospitalar às populações ribeirinhas e o transporte de órgãos para transplantes; além de inúmeras outras atividades, destacando, ainda, a essencial e diuturna proteção das fronteiras marítima, terrestre e aérea, que asseguram nossa Soberania e Desenvolvimento Nacional.
Por fim, um País forte requer instituições sólidas e transparentes. Tratar com franqueza os assuntos da Defesa, além de proporcionar o fortalecimento das instituições, contribui para o propósito de alçarmos o Brasil a níveis adequados de desenvolvimento e segurança.”
Brasília, 12h15min