Até o início dos anos 2000, era comum ouvir que o Brasil havia sido vítima do contágio de alguma crise externa. Qualquer espirro que o mundo dava era suficiente para deixar o país de joelhos. Com a consolidação da estabilidade econômica e os anos seguidos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), felizmente, esse quadro mudou. O Brasil ganhou robustez e sua importância para o desempenho da economia global aumentou.
O desejável, porém, era que o Brasil fosse sempre fonte de boas notícias para o planeta. Mas o que se tem visto é exatamente o contrário. O país, com o desastre provocado por Dilma Rousseff, tornou-se um problema. Agora, é visto como fonte de contágio para o mundo. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que a economia brasileira, com previsão de retração de 3% neste ano e de 1% em 2016, vai arrastar para o buraco parte dos vizinhos latino-americanos e provocar estragos nos mercados emergentes.
Portanto, ao contrário do que diz Dilma, não são os problemas internacionais que estão minando a economia brasileira. São os erros que ela cometeu, que resultaram em inflação nas alturas, desemprego e desconfiança, os responsáveis pela terra arrasada em que se transformou o país, com reflexos mundo afora. A América Latina, segundo o FMI, terá, neste ano, a primeira contração de PIB em mais de uma década. O resultado será puxado, sobretudo, pelo Brasil. O mais assustador é que não há perspectiva de recuperação à vista. Não para o país.
Derrota
Nos últimos dias, com as mudanças promovidas por Dilma nos ministérios, tentou-se abrir uma janela no horizonte sombrio que assusta a todos. Deu-se um voto de confiança ao governo, de que conseguiria sair da frente do precipício. Mas bastou o primeiro teste — a votação no Congresso para garantir os vetos presidenciais — para se constatar que a presidente continua muito fragilizada. Mesmo assumindo pessoalmente a articulação para garantir a votação de ontem, não conseguiu quórum suficiente. Nem mesmo de parlamentares do seu partido, o PT.
A inviabilidade do governo Dilma está se tornando flagrante. E é isso que está fazendo a atividade afundar. A cada semana, as projeções para o PIB só pioram. O Itaú Unibanco já prevê retração de 1,5% em 2016. Confirmadas as estimativas mais atuais, o tamanho da economia Brasil recuará, ao fim do ano que vem, aos mesmos níveis observados em 2011, quando a presidente tomou posse. Não há registro na história recente do país, pelo menos no período pós-redemocratização, de um governo que tenha conseguido tamanha proeza.
É por isso que o pessimismo está em níveis recordes. O medo dos brasileiros de perder o emprego atingiu o patamar de 1999, quando o país quebrou e foi obrigado a mudar o regime cambial para o sistema de taxas flutuantes. Nas ruas, o que mais se ouve são lamentações. No comércio, as lojas vazias estimulam demissões. Nos chão das fábricas, o ritmo de trabalho é mínimo. Nem mesmo a perspectiva do Natal consegue melhorar os ânimos. Todos só olham para 2017, quando se espera que o Brasil tenha tirado pelo menos os pés do atoleiro.
Hemorragia
Apesar do desânimo, a torcida é para que o governo consiga estancar a hemorragia que levou a economia ao caos. Dilma está tendo a sua última chance. O atual acordo com o PMDB é um paliativo, mais um caminho para se aprovar um ajuste fiscal que ao menos estabeleça uma ponte para que evite a morte por inanição. Já está praticamente certo que a CPMF não sairá neste ano. Talvez entre em vigor na segunda metade do ano que vem.
Esse é o quadro mais positivo aventado por auxiliares de Levy que, a cada dia, reduzem a disposição de continuar sentados nas cadeiras que lhes foram oferecidas com a promessa de fazer um ajuste fiscal rápido. Na Fazenda, admite-se que Dilma demorou demais para assumir a importância do ajuste fiscal para que a casa fosse arrumada. A presidente acreditou que, colocar um técnico apoiado pelo mercado financeiro no comando da equipe econômica seria suficiente para conseguir o apoio de que precisava.
A arrogância da petista a impediu de enxergar que o país caminhava para o buraco rapidamente. Só que a fatura está ficando pesada demais para a população. O fosso que separa pobres e ricos voltou a aumentar. A pobreza está novamente batendo às portas de muita gente. Não há como segurar a insatisfação daqueles que estão vendo suas conquistas escorrerem pelo ralo. Nesse quadro de desperança e desespero, não há como Dilma chegar até 2018.
Jogando a toalha
» O sentimento dentro do governo é de que a Moody’s, com o relatório divulgado ontem, adiou por pelo menos três meses a decisão de rebaixar o Brasil. Mas boa parte da equipe econômica reconhece que a perda do grau de investimento pela agência será inevitável.
O entrave chamado PT
» O ponto que mais pesará para a decisão da Moody’s de tirar o selo de bom pagador do país será a não aprovação, pelo Congresso, da CPMF até dezembro. Mais do que o PMDB, dizem assessores de Levy, é o PT que está jogando a pá de cal na recriação do tributo, que pode render R$ 32 bilhões por ano.
Brasília, 00h10min