FOGO AMIGO

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A equipe econômica da presidente Dilma Rousseff vê com desdém as críticas de integrantes do PT às medidas de ajuste fiscal. Para técnicos dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, o partido da presidente Dilma Rousseff deveria agradecer por um grupo de pessoas sérias ter aceitado a missão de corrigir tantos erros cometidos na economia nos últimos quatro anos. Eles ressaltam que, se nada fosse feito rapidamente, sem remendos, certamente Dilma correria o risco terminar o segundo mandato com o país mergulhado em uma grave crise, que limaria de vez os petistas do poder.

Os aliados do ministro Joaquim Levy sabem que a gritaria contra os ajustes, verbalizada publicamente pelo vice-presidente do PT, Alberto Cantalice, só está no começo. Não à toa, mesmo que discretamente, o chefe da equipe econômica vem mandando recados aos críticos e definindo as diferenças entre o que ocorreu no primeiro mandato de Dilma e o que serão os próximos quatro anos.

A convicção do ministro da Fazenda é de que, com os resultados que estão por vir, depois do sofrimento que será 2015, o PT terá de engoli-lo. Melhor, terá de lhe estender o tapete vermelho. É questão de sobrevivência para os petistas, carimbados pela corrupção que destrói a Petrobras, que o país volte a crescer com a inflação sob controle. “Felizmente, a presidente Dilma percebeu isso logo depois de as urnas lhe darem mais um mandato”, afirma um graduado funcionário do Planalto.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Partners, o que Levy e aliados estão buscando é a chamada eficácia econômica. “Com a carta branca que parecem ter recebido da presidente da República, vão mostrar que, mesmo com aumento de impostos e de tarifas públicas, o Brasil poder crescer de forma sustentada, distribuindo renda”, diz. É exatamente o contrário do que se viu entre 2011 e 2014, período marcado pelo aumento exagerado de gastos, pela redução de tributos a setores específicos e por preços administrados (energia e combustíveis) irreais. Em linguagem técnica, Levy está fazendo uma equalização de gastos e tributos e reduzindo privilégios.

Na opinião de Velho, os ajustes promovidos na economia permitirão ao Brasil passar, sem grandes sobressaltos, pelas turbulências que virão dos Estados Unidos, quando o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, decidir aumentar as taxas de juros. Sem corrigir as fragilidades que ostentou nos últimos anos, certamente o país ficaria de joelhos. “Não podemos esquecer que, além da alta dos juros nos EUA, o Brasil sentirá o baque da desaceleração da economia da China”, acrescenta.

Dentro do governo, há quem acredite que, recompostos os pilares da economia — metas inflação, câmbio flutuante e ajuste fiscal —, o maior entrave a ser enfrentado pela equipe chefiada por Levy será o PT. O descontentamento do partido e as tentativas de sabotagens vão aumentar à medida que o noticiário for mostrando a retração do Produto Interno Bruto (PIB) e, sobretudo, o aumento do desemprego. “O fogo amigo já está aceso”, admite um ministro do círculo mais próximo de Dilma.

Nada de bola fora

O mercado continua demonstrando que, a despeito do apoio a Joaquim Levy, está longe de dar trégua ao Tesouro Nacional. Ne leilão semanal de títulos públicos, ontem, o órgão foi obrigado a pagar juros mais altos para vender 6,45 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN) e 4 milhões de Notas do Tesouro Nacional Série F (NTN-F). Os investidores exigiram as taxas máximas do dia. Nas LTNs, variaram entre 12,11% e 12,67% ao ano. Já as NTNs-F foram negociadas entre 11,90% e 11,95% anuais. Os operadores de bancos dizem que está sobrando dinheiro no sistema, mas ninguém quer correr o risco de ser surpreendido por alguma bola fora do governo.

Inteligência volta à SPE

» Quem acompanha o dia a dia do Ministério da Fazenda garante que o clima de inteligência voltou com tudo à Secretaria de Política Econômica. Os debates estão sendo muitos mais centrados em como aumentar a produtividade do país e avançar na agenda microeconômica.

Orçamento trava o PAC

» O governo já se deu conta de que só retomará os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) — mesmo assim em ritmo muito lento —depois que o Congresso aprovar o Orçamento da União de 2015. Na melhor das hipóteses, isso deve ocorrer em março.

Vendas da construção caem

» A venda de materiais de construção decepcionou em 2014. Dados da associação do setor, a Abramat, que serão divulgados hoje, mostram que o faturamento (já descontado a inflação) caiu 6,6% ante o ano anterior. Em dezembro, especificamente, o recuo foi de 0,5% na comparação anual.

BTG quer mais hospitais

» O BTG Pactual está se preparando para voltar às compras de hospitais. Há um certo incômodo com a decisão do governo de abrir o setor ao capital estrangeiro.

Brasília, 08h25min