FMI revisa previsões e não descarta risco de recessão global

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ROSANA HESSEL

O Fundo Monetário Internacional (FMI) fez novas previsões para a economia global e fez um novo alerta sobre o processo de desaceleração em curso na atividade mundial, em grande parte, devido à guerra na Ucrânia, não descartando risco de recessão global.

Pelas novas projeções do Fundo – divulgadas nesta terça-feira (11/10), durante o encontro anual de outono (no Hemisfério Norte) do organismo multilateral, que ocorre nesta semana em Washington –, apesar da melhora nas estimativas para o Brasil neste ano em relação às estimativas de julho, o país vai acompanhar as demais economias do planeta nesse processo de perda de fôlego da atividade em 2023.

Conforme dados da edição de outubro do relatório “Panorama Econômico Global”, o FMI elevou de 1,7% para 2,8% a previsão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano e reduziu de 1,1% para 1% a perspectiva de crescimento do no ano que vem. Em abril, a previsão do Fundo para o crescimento do PIB brasileiro era de 0,8%, e para 2023, de 1,4%.

As novas previsões do Fundo para o PIB do Brasil deste ano estão mais otimistas do que as do mercado em geral. Conforme dados do boletim Focus, divulgado na segunda-feira pelo Banco Central, a mediana das projeções dos economistas do mercado para o crescimento do PIB deste ano é de 2,7% e, para o ano que vem, de 0,54%.

O Fundo revisou de 3% para 3,5% a estimativa de crescimento da América Latina neste ano, e reduziu de 2% para 1,7% a perspectiva de expansão da região no ano que vem.

Entre os países do Brics – bloco das economias emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – o Brasil está na média e só deverá crescer mais do que a Rússia e a África do Sul, pelas estimativas do FMI.

Pelas projeções do Fundo, enquanto o PIB da China e da Índia devem avançar 3,2% (0,1 ponto a menos do que o previsto em julho) e 6,8% (0,6 ponto a menos), respectivamente, o PIB da Rússia deve encolher 3,4% e a África do Sul deverá crescer 2,1%.

Desaceleração global

A previsão do FMI para o crescimento da economia global neste ano manteve-se estável em 3,2% na comparação com a atualização de julho. Contudo, para o ano que vem, a perspectiva de expansão do PIB mundial recuou de 2,9% para 2,7%. Essas novas projeções estão, respectivamente, 0,4 e 0,9 ponto percentual abaixo das estimativas de abril, de alta de 3,6% tanto no PIB global de 2022 quanto no de 2023.

O Fundo ainda reduziu de 2,5% para 2,4% a previsão de crescimento do PIB das economias desenvolvidas neste ano. E, para 2023, revisou essa taxa de 1,4% para 1,1%. Pelas novas previsões do FMI, o PIB dos Estados Unidos deverá crescer 1,6%, neste ano, em vez de 2,3% estimados em julho. Para 2023, a previsão de desaceleração para 1% manteve-se estável.

O FMI ainda elevou de 2,6% para 3,1% a previsão de expansão do PIB da Zona do Euro, mas reduziu de 1,2% para 0,5% a estimativa de avanço em 2023, com o PIB da Alemanha e da Itália registrando queda de 0,3% e de 0,2%, respectivamente.

“A desaceleração de 2023 será ampla, com os países respondendo por cerca de um terço da economia global prestes a se contraírem neste ano ou no próximo. As três maiores economias do planeta, os Estados Unidos, a China e a Zona do Euro continuarão a estagnar. No geral, os choques deste ano reabriram feridas econômicas que foram apenas parcialmente curadas pós-pandemia. Em suma, o pior ainda está por vir e, para muitas pessoas, 2023 parecerá como uma recessão”, destacou o economista Pierre-Olivier Gourinchas, diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, em comentário divulgado junto com as novas estimativas do organismo multilateral do relatório do Fundo.

“A economia global continua a enfrentar grandes desafios, moldados pela invasão russa da Ucrânia, uma crise de custo de vida causada por uma inflação persistente e crescente pressões e a desaceleração na China”, destacou o economista.

Vicente Nunes