No estudo denominado “Gerenciando recuperações divergentes” e que é apresentado no encontro de primavera (no Hemisfério Norte), o organismo multilateral elevou as estimativas de crescimento global e de vários países, que devem apresentar retomada desigual do tombo de 2020 provocado pela pandemia da covid-19.
O órgão fez um ajuste pequeno para a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano, por exemplo, na comparação com a atualização do WEO feita em janeiro, passando de 3,6% para 3,7%. Essa nova projeção é 0,9 ponto percentual acima da previsão de outubro de 2020, de 2,8%, durante o encontro de inverno da sede sediada em Washington. Já a estimativa de janeiro para 2022, foi mantida em 2,6%, dado 0,3 ponto percentual superior ao de outubro.
Enquanto isso, as estimativas da Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia, preveem crescimento de 3,2%, em 2021, e de 2,5%, em 2022. Enquanto isso, a mais recente mediana das estimativas do mercado, computada pelo boletim Focus, do Banco Central, está em 3,17% e 2,33%, na mesma base de comparação.
No ano passado, quando o FMI previa queda de 9,1% do PIB brasileiro e estava mais pessimista do que o governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a afirmar que o Fundo “errava muito” as estimativas e não incluiu na conta os impactos dos auxílios fiscais na atividade.
Vale lembrar que o mercado ainda estima um carry over (carregamento estatístico) do PIB de 2020 de 3,6% a 3,7%, pela projeção do FMI praticamente não haverá crescimento neste ano. E, se considerarmos as projeções do mercado, que não descartam recessão no primeiro semestre, a economia brasileira ainda deverá ter, na verdade, apresentar queda na atividade na margem, principalmente, como consequência do atraso da vacinação no país que não está evitando o aumento desenfreado nas mortes e nos casos no país.
O Peterson Institute For International Economics (PIIE), sediado em Washington, tem projeções próximas às do FMI para a economia global, mas não está tão otimista como o FMI em relação ao Brasil. O conceituado think tank norte-americano prevê queda de 1% no PIB brasileiro, neste ano, e avanço de 1,5%, no ano que vem. Um dos motivos, é o agravamento dos casos da pandemia no país “que está pressionando o sistema de saúde e a economia”.
Abaixo da média
Mesmo com projeções mais otimistas, as taxas de expansão do Brasil previstas pelo FMI, neste ano e no próximo, estão abaixo da média das estimativas global e da América Latina. O Fundo elevou de 5,5% para 6% a previsão do PIB mundial deste ano, entre janeiro e abril, e de 4,2%, para 4,4%, a projeção de 2022, na mesma base de comparação.
Já a maior economia do planeta, os Estados Unidos, deverá crescer 6,4%, neste ano, e 3,5%, em 2022, segundo o WEO. Essas taxas foram ampliadas em 1,3 e 1,0 ponto percentual, respectivamente, na comparação com a atualização de janeiro, contribuindo bastante para a melhora da projeção do PIB global. “Graças à engenhosidade da comunidade científica, centenas de milhões de pessoas estão sendo vacinadas e isso deve gerar recuperações em muitos países ainda este ano. As economias também continuam a se adaptar a novas formas de trabalhar, apesar mobilidade reduzida, levando a uma recuperação mais forte do que o previsto em todas as regiões. Adicional o apoio fiscal em grandes economias, especialmente nos Estados Unidos, melhorou ainda mais o panorama”, destacou a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, em comentário sobre o relatório.
Gopinath ainda alertou que o futuro ainda apresenta “desafios assustadores”. “A pandemia ainda não foi derrotada e casos de vírus estão se acelerando em muitos países. As recuperações também estão divergindo perigosamente entre e dentro dos países, como economias com lançamento mais lento de vacinas, apoio político mais limitado e mais dependentes do turismo não se saem tão bem”, adicionou, no documento do FMI.
Ao comentar sobre o desempenho do Brasil, especificamente, a economista do FMI, reconheceu que os estímulos fiscais do governo ajudaram a reduzir a queda do PIB brasileiro em 2020, e que, neste ano, o país poderá aproveitar a recuperação melhor da economia global. No entanto, fez uma alerta para a vacinação em massa será fundamental para que o país volte a crescer de forma mais robusta. “A prioridade número um do Brasil é uma vacinação em ritmo mais acelerado do que a que temos visto no momento atual”, frisou Gopinath.
Pelas estimativas do Fundo para a economia da América Latina e Caribe, o crescimento previsto passou de 4,1% para 4,6%, neste ano, e de 2,9% para 3,1%, no ano que vem. Após o tombo de 7% no PIB latino-americano, bem mais profundo do que o recuo global, de 3,3%, o Fundo prevê retomada mais acelerada, neste ano, devido ao impulso maior do que o esperado nos países de expectativas em alguns grandes países exportadores da região, como Argentina, Brasil e Peru. “A visão de longo prazo continua a depender do caminho do pânico, entretanto. Com algumas exceções (por exemplo, Chile, Costa Rica, México), a maioria dos países não garantiu vacinas suficientes para cobrir suas populações”, alertou o organismo multilateral no relatório.
Pelas projeções do FMI, Peru deverá registrar a maior taxa de crescimento da região em 2021, de 8,5%, seguido por Chile, de 6,2%, e Argentina, de 5,8%. Bolívia e México, na sequência, devem crescer 5,5% e 5%.
Índia lidera crescimento
Na comparação com os países do Brics — grupo de países emergentes integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — o Brasil deve apresentar a segunda menor taxa de crescimento em 2021, à frente apenas da África do Sul, com expansão de 3,1%, pelas estimativas do FMI.
A Índia, deve liderar o grupo, com a maior taxa de expansão do Brics e a maior entre as economias selecionas pelo FMI, de 12,5%, seguida por China e Rússia, com altas de 8,4% e de 3,8%, respectivamente.
A média da previsão do Fundo para o crescimento das economias emergentes em 2021 passou de 6,3% para 6,7%, entre janeiro e abril.
Riscos de emergentes
Em outro relatório divulgado hoje, o de Estabilidade Financeira Global, o FMI reforçou que a recuperação da economia mundial será assíncrona e divergente nas diversas economias, conforme os dados apontados no WEO, e ainda apontou riscos para os países em desenvolvimento, especialmente, devido à dificuldade de acesso às vacinas contra a covid-19.
“Dadas as grandes necessidades de financiamento externo, os mercados emergentes enfrentam desafios colossais, particularmente, se um aumento persistente nas taxas de juros dos Estados Unidos levar a uma reprecificação do risco e a condições financeiras mais restritivas. Em muitos países, o setor empresarial está saindo da pandemia superendividado, com diferenças acentuadas dependendo do porte e do setor de atuação da empresa”, alertou o documento.
Segundo o Fundo, existe o risco de que, nas economias de mercados emergentes, as condições financeiras se tornem mais restritivas, particularmente se as autoridades das economias avançadas tomarem medidas para a normalização da política econômica. “Um ambiente financeiro menos favorável poderia resultar em grandes saídas de investimentos de carteira e constituir um desafio significativo para algumas economias de fronteira e de mercados emergentes, devido às elevadas necessidades de financiamento que elas enfrentam este ano, principalmente, nos países com fundamentos mais fracos ou com acesso limitado às vacinas contra a covid-19 são vulneráveis”, acrescentou.