ROSANA HESSEL
Apesar de piorar as previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global, o Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorou a projeção para o crescimento do PIB do Brasil, mas o país continua com taxas menores do que média mundial e que a maioria dos pares emergentes.
O FMI revisou a projeção de alta do PIB do Brasil em 2022 de 0,3% para 0,8%, ou seja, uma alta de 0,5 ponto percentual acima à estimativa de janeiro. Por outro lado, reduziu de 1,6% para 1,4% a estimativa de expansão do PIB brasileiro em 2023, conforme dados do relatório Panorama Econômico Global (WEO, na sigla em inglês) divulgados nesta terça-feira (19/4).
As novas previsões do FMI para o PIB brasileiro, apesar de mais otimistas do que as do mercado, cuja mediana de 23 de março do boletim Focus, do Banco Central, apontava altas de 0,5%, em 2022, e de 1,3%, em 2023, são mais pessimistas do que as projeções do Ministério da Economia no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2023, que preveem avanços de 1,5% e 2,5% no PIB deste ano e do próximo.
De acordo com o relatório FMI, apesar de ter menos conexão com a Europa, a América Latina deverá ser mais afetada pela inflação e pelo aperto das políticas monetárias e faz alerta para a alta dos juros no Brasil e o impacto na atividade econômica do país. “O Banco Central do Brasil respondeu à inflação mais alta aumentando as taxas básicas de juros em 9,75 pontos percentuais ao longo de 2021, o que pesará sobre a demanda doméstica”, alertou o Fundo, que destacou que a redução das previsões de crescimento dos Estados Unidos e da China devem pesar sobre as perspectivas para os parceiros comerciais na região, em meio à guerra na Ucrânia, que terá efeitos ainda “difíceis de avaliar” nos países latino-americanos.
Devido à escalada da inflação no Brasil, que vem surpreendendo mês a mês neste ano, as estimativas para a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 11,75% ao ano, continuam sendo revisadas para cima e alguns analistas não descartam que a Selic possa chegar a 14% ao longo deste ano. Apesar desse cenário que pode travar a atividade econômica, a melhora na perspectiva de crescimento do Brasil, segundo o FMI, está mais relacionada como a perspectiva de valorização preços das commodities, pois o país é um grande exportador de produtos agrícolas.
No documento, Fundo destacou que a crise atual, desencadeada pela guerra na Ucrânia sem que o mundo se recuperasse totalmente do abalo provocado pela pandemia da covid-19, continuará tendo divergências significativas entre as recuperações econômicas dos mercados desenvolvidos e dos emergentes. Mas os efeitos econômicos da guerra “estão se espalhando como ondas sísmicas que partem do epicentro de um terremoto”.
Na lanterna
Pelas novas projeções do FMI, o Brasil continuará crescendo menos do que o mundo e seus pares emergentes, em grande maioria. Enquanto o PIB global deverá registrar expansão de 3,6% neste ano e no próximo, o Fundo revisou de 4,8% para 3,8% a estimativa de expansão do PIB das economias emergentes em 2022, na comparação com as previsões divulgadas em janeiro.
A estimativa de avanço do PIB da América Latina neste ano foi revisada de 2,4% para 2,5% e, para 2023, a taxa de crescimento econômico da região passou de 2,6% para 2,5%. O México, mesmo com uma redução de 0,8 ponto percentual na projeção de janeiro, para 2%, continuará crescendo mais do que o Brasil neste ano. O Fundo reduziu em 0,2 ponto percentual a expectativa de crescimento do PIB mexicano em 2023, para 2,5%.
Entre os países do Brics, grupo dos países emergentes integrados por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brasil só ganha da Rússia em termos de crescimento do PIB.
Pelas novas projeções do Fundo, a China deverá crescer 4,4% neste ano, dado 0,4 ponto percentual abaixo do projetado em janeiro (4,8%), como resultado da retomada dos bloqueios em cidades estratégicas, como Xangai, por conta da covid-19, que, segundo o organismo multilateral deverá prejudicar o as cadeias de suprimentos globais. Para 2023, a estimativa de alta do PIB chinês passou de 5,2% para 5,1%.
O FMI passou a prever avanço de 8,2% no PIB da Índia neste ano, dado 0,8 ponto percentual abaixo do estimado em janeiro (9%). A revisão para a alta do PIB indiano em 2023, passou de 7,1% para 6,9%.
As projeções para o crescimento do PIB da África do Sul não foram alteradas, permanecendo em 1,9% e 1,4% para este ano e o próximo.
Já as estimativas para o PIB da Rússia passaram a ser negativas tanto para 2022 quanto para 2023. As previsões para a variação do PIB russo passaram de 2,8% para -8,5%, neste ano, e de 2,1% para -2,3%.