ROSANA HESSEL
O avanço da covid-19 na América Latina e no Caribe tornou a região novo epicentro da covid-19, provocando um custo de 100 mil vidas perdidas e um pedágio econômico bem caro, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Fundo anunciou nesta sexta-feira (26/06) uma atualização mais detalhada para a região das previsões de abril. Revisou a previsão de queda do PIB da América Latina e do Caribe de 5,2% para 9,4%, o que será a maior recessão já projetada para a região. O órgão, inclusive, fez um alerta sobre a flexibilização da quarentena nos países latino-americanos e recomendou cautela na abertura das economias.
“As taxas de infecções por Covid-19 e mortes per capita estão se aproximando das registradas na Europa e nos Estados Unidos, com o número total de casos representando cerca de 25% do total mundial”, destacou Alejandro Werner, diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, nesta sexta-feira (26/06). No ano que vem, a recuperação será de 3,7%, conforme as estimativas do Fundo. “Os países devem ser muito cautelosos ao considerarem a abertura de suas economias e permitir que a ciência e os dados guiem o processo. De fato, muitos países da região têm altos níveis de informalidade e baixa preparação para lidar com novos surtos, como uma alta ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva e baixa capacidade de teste e rastreamento”, alertou.
Werner reconheceu que o desempenho econômico dos países latino-americanos no primeiro trimestre “foi pior do que o esperado” e os principais indicadores de atividade, como produção industrial, consumo de eletricidade, vendas no varejo e emprego, segundo ele, sinalizam que o declínio no segundo trimestre “será mais profundo do que o projetado em abril”.
“A disseminação ainda rápida da pandemia indica que as medidas de distanciamento social precisarão permanecer por mais tempo, deprimindo a atividade econômica no segundo semestre de 2020 e deixando mais cicatrizes daqui para frente”, afirmou. Para ele, devido à retração da economia global, as exportações de commodities dos países da região devem sofrer queda na demanda.
Na quarta-feira (24), o FMI divulgou as novas previsões para o PIB global e passou a prever que o mundo deverá encolher 4,9%, neste ano, e não mais 3%, taxa estimada em abril. Em meio ao aumento das incertezas na economia brasileira, o Fundo prevê retração de 9,1% no PIB do Brasil neste ano e recuperação em 2021 será de 3,6%, abaixo da média previsão para a região.
As projeções do Fundo para a economia brasileira estão mais pessimistas do que as do mercado e do Banco Central, que estimam recuo de 6,5% e de 6,4% no PIB neste ano, respectivamente.
As projeções anteriores para o país previam queda de 5,3%, neste ano, e crescimento de 2,9%, em 2021. “As autoridades responderam fortemente à pandemia, com cortes decisivos nas taxas de juros e significativos pacotes de liquidez, incluindo transferências diretas de dinheiro direcionadas aos grupos de trabalhadores mais vulneráveis”, elogiou Werner. No entanto, ele acredita que a retirada desse estímulo deverá pesar no crescimento de 2021, “uma vez que a economia brasileira vinha se recuperando lentamente da recessão de 2015 e 2016”.
Pelas novas projeções do FMI, o PIB da Argentina deverá encolher 9,9% e o do México, 10,3%. O Fundo prevê retração de 13,9% no PIB do Peru e tombo de 20% no PIB da Venezuela. No Chile, o organismo projeta que o PIB real vai recuar ,5% em 2020, registrando recuperação de 5%, em 2021.
Apenas a América Latina deverá ter retração de 9,9% neste ano. Excluindo a Venezuela, a taxa de queda do PIB da América do Sul deverá ser de 9,5%, pelas novas estimativas do Fundo. Antes, o recuo previsto era de 5,1%.