Fluxo cambial fica positivo em US$ 1,1 bi, mas dólar alto preocupa

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ROSANA HESSEL

O fluxo cambial registrou superavit de US$ 1,1 bilhão até o dia 10 (são sete dias úteis), conforme dados divulgados nesta quarta-feira (15/01) pelo Banco Central. Esse saldo positivo, no entanto, ainda não sinalizada uma virada após debandada recorde no ano passado, de US$ 44,8 bilhões, segundo especialistas. Eles alertam para um comportamento atípico do mercado de câmbio que mostra frustração com a economia.

Os primeiros meses do ano costumam ter fluxos cambiais positivos. Em janeiro 2019, a entrada líquida de dólares foi de US$ 55 milhões e, no primeiro mês de 2018, o saldo positivo ficou em  US$ 8,1 bilhões. Mas o dólar está subindo muito e chegou perto de US$ 4,20 no dia em que os dados do varejo frustraram as expectativas do mercado. Além disso, o BC registrou perda de R$ 1,4 bilhão nas operações de swaps cambiais nos 10 primeiros dias de janeiro.

Logo, a melhora das previsões do governo de crescimento econômico em 2020 e o fato de o presidente Jair Bolsonaro comemorar a sinalização dos Estados Unidos em dar apoio prioritário à entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não ajudaram a animar os operadores do mercado.

Preocupação

O economista e diretor executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, demonstra preocupação com o comportamento do mercado de câmbio. “Mesmo com o clima externo mais favorável, com Estados Unidos e China fechando a primeira etapa do acordo comercial e as tensões no Irã diminuindo, após o país ter derrubado o avião comercial com cidadãos civis por engano, o dólar está subindo, e a bolsa caindo”, lamentou.

De acordo com o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, o real lidera a lista das moedas emergentes mais desvalorizadas hoje. “Os dados da atividade de novembro estão vindo ruins, e isso reforça a ideia de que a recuperação da atividade econômica não está tão forte como se esperava. Portanto, o Banco Central está no meio de uma contradição. Ele não poderá cortar juros na próxima reunião em fevereiro, porque o dólar está subindo, e também não poderá subir a taxa básica, já que a economia não está reagindo”, explicou. Pelas projeções dele, o dólar deverá encerrar o ano em R$ 4,30.

Para Nehme, a ficha no mercado está caindo porque as projeções otimistas de retomada da economia não devem se concretizar, e o BC deveria estar mais preocupado com o fato de a inflação ter ficado acima do esperado em 2019, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) disparou 4,31%. Mais: deveria estar no radar da autoridade monetária o fato de que o dólar mais alto pressiona o custo de vida. “O cenário não permite deslizes na gestão que possam neutralizar as expectativas”, alertou. 

O economista da Necton avaliou que o mercado apostou muito que o Banco Central sozinho conseguiria resolver o problema do baixo crescimento da economia e, por isso, o comportamento agora é de instabilidade. “O papel do BC já acabou, não tem mais como reduzir os juros. Agora, falta o Ministério da Economia começar a agir mais, mas não tem como estimular a economia com aumento de gastos do governo, porque não há espaço fiscal”, comentou.

Brasília, 16h26min

Vicente Nunes