O governo está convencido de que o Banco Central vai mesmo encerrar o processo de alta da taxa básica de juros (Selic) em abril próximo, com mais uma elevação de 0,25 ponto percentual, para 13% ano. Ao se aterem ao discurso de ontem do presidente da instituição, Alexandre Tombini, técnicos do Ministério da Fazenda e do próprio BC constataram que a autoridade monetária demonstra estar convencida de que o aperto iniciado em 2013 será suficiente para levar à inflação ao centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2016.
A visão é de que, mesmo usando cinco vezes o termo “vigilante” para definir o tamanho da preocupação do Comitê de Política Monetária (Copom) com o custo de vida, Tombini destacou que as medidas tomadas pelo governo, como o ajuste fiscal e o tarifaço, corrigirão as distorções dos preços no curto prazo e amplificarão os efeitos do choque de juros já imposto à economia — alta acumulada de 5,5 pontos. Para os técnicos, a não ser que o dólar dê nova arrancada, o que poucos acreditam, o BC dará por encerrada a sua missão. Apenas esperará pelos resultados para confirmar que, desta vez, não errou.
Para o governo, mais do que a inflação, que deve fechar o ano entre 8% e 8,5%, será o nível de atividade que surpreenderá, negativamente, os agentes econômicos. A tendência é de que os números a serem divulgados até a próxima reunião do Copom, no fim do mês que vem, sinalizem queda superior a 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa retração será vital para conter a carestia, pois limitará o repasse da valorização do dólar para os preços. O BC terá ainda a seu favor o corte aproximado de R$ 60 bilhões no Orçamento da União, a ser anunciado em breve pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Na avaliação do economista-chefe da Itaim Asset, Ivo Chermont, o presidente do BC usou termos bem mais suaves para discorrer sobre o atual quadro inflacionário do que o diretor de Política Econômica, Luiz Awazu Pereira. Na Turquia, antes da última reunião do Copom, ele havia afirmado que a autoridade monetária estava “especialmente vigilante”, reforçando que a autoridade monetária manteria a alta da Selic em 0,50 ponto e que não permitiria o descontrole da inflação.
Chermont listou os pontos ressaltados por Tombini para justificar que não há mais por que o BC pesar a mão sobre a Selic: o alinhamento das políticas macroeconômicas (fiscal e monetária); a menor pressão dos preços administrados ao longo do ano, uma vez que os reajustes mais pesados da energia e dos combustíveis se concentração no primeiro trimestre de 2015; a retração do mercado de trabalho — apenas nos dois primeiros meses do ano foram fechados 84 mil empregos formais —; o aumento de juros já realizado; e a menor transmissão da elevação do dólar para a economia.
“É verdade que ainda faltam 40 dias para o próximo encontro do Copom. Mas, com a moeda norte-americana se acomodando entre R$ 3,20 e R$ 3,25 e o nível de atividade desacelerando muito rapidamente, mais uma alta de 0,25 ponto e o fim do ciclo de ajuste nos juros passaram a ser o quadro mais provável neste momento”, assinala Chermont. “Uma elevação de 0,50 ponto na Selic, só na pior das hipóteses”, emenda.
Governo muito ruim
» A pesquisa do Datafolha mostrando a presidente Dilma Rousseff com apenas 13% de aprovação — o nível mais baixo desde Collor de Mello, em setembro de 1992, às vésperas do impeachment — é o retrato mais fiel do quanto o governo é ruim e do quanto errou nos últimos quatro anos. A petista acreditou que conseguiria manter apoio popular mesmo com a inflação em disparada e o tarifaço que tanto ela negou durante a campanha eleitoral. Enganou-se por completo.
Chega de mentiras
» Ao demonstrarem grande descontentamento com o governo, 62% dos brasileiros reforçam que já não aceitam medidas requentadas ou campanhas de marketing para manter apoio a Dilma. Todos, mesmo aqueles que votaram pela reeleição da presidente, ficaram escaldados com a quantidade de mentiras que engoliram durante a última disputa pelo Palácio do Planalto.
Ainda vai piorar
» Na opinião de especialistas, Dilma deve se preparar para ver sua popularidade despencar mais, pois o aumento do desemprego só está começando. Para 63% dos eleitores da petista, o medo de perder o trabalho aumentou. Boa parte dos que responderam à pesquisa está endividada. A combinação da perda do emprego com contas a pagar inflará os movimentos de rua que gritam “Fora Dilma”, “Fora PT”.
Vingança de Dilma
» Nos bastidores, Dilma certamente apoiou o discurso de Cid Gomes, agora ex-ministro da Educação, de acusar 300, 400 deputados de achacadores. Apoiou, sobretudo, o ataque direto do ex-auxiliar ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Mas teve de se render à realidade: entregou a cabeça de Cid para não perder a dela. A debandada do PMDB da base aliada seria o fim antecipado da era petista. O processo de impeachment começaria em questão de dias. Mas que Dilma lavou a alma, lavou.
Brasília, 00h01min