De acordo com a Fiesp, o prazo anterior terminou na sexta-feira passada e foi de 24 horas, pois o e-mail para a adesão foi disparado na quinta-feira (27). A assessoria informou, nesta segunda-feira (30/08), que, nesse período, 200 entidades aderiram ao manifesto. Ainda não há uma data definida de quando o documento será divulgado.
O texto é fruto da insatisfação de empresários e de banqueiros em relação ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que vem fazendo ameaças ao Judiciário e à realização das eleições no ano que vem além de incentivar manifestações no dia 7 de Setembro, aumentando a instabilidade tanto na política quanto na economia do país. Contudo, a iniciativa gerou um racha na Federação Brasileira de Bancos (Febraban) entre os bancos públicos e privados, após a entidade aderir ao manifesto que deveria ser divulgado amanhã.
Após o vazamento do texto do manifesto no fim de semana, inclusive, o envolvimento da Febraban desde o início, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil ameaçaram abandonar a entidade assim que texto for for publicado. Procurados, BB e Caixa não comentaram o assunto, mas fontes da Esplanada contam que os presidentes das duas instituições financeiras controladas pela União tiveram voto vencido e ficaram incomodados com o texto. Para eles o manifesto foi endereçado ao presidente Jair Bolsonaro, apesar de ele não ter sido citado. A mesma fonte negou que o Planalto tenha interferido na decisão, mas reconheceu que a Caixa já vinha demonstrando interesse em deixar a Febraban.
Procurada, a Febraban, por meio de nota, informou que a “a entidade não participou da elaboração de texto que contivesse ataques ao governo ou oposição à atual política econômica. O conteúdo do manifesto pedia serenidade, harmonia e colaboração entre os Poderes da República e alertava para os efeitos do clima institucional nas expectativas dos agentes econômicos e no ritmo da atividade”.
Segundo o comunicado da Febraban, o prazo de adesão foi ampliado para às 17h da próxima sexta-feira (03/09), e “a iniciativa é fruto de elaboração conjunta de representantes de vários setores, inclusive o financeiro, ao longo da semana passada e, de acordo com a Fiesp, a ampliação do prazo ocorreu para dar um prazo maior para as entidades conversarem com seus integrantes e sócios para aderirem ou não ao manifesto”.
Na nota, a Febraban ainda disse que “submeteu o texto a sua própria governança, que aprovou ter sua assinatura no material. Nenhum outro texto foi proposto e a aprovação foi específica para o documento submetido pela Fiesp. Sua publicação não é decisão da federação dos bancos. A Febraban não comenta sobre posições atribuídas a seus associados”.
Devido à polêmica em torno do manifesto, os bombeiros tentaram entrar em campo. Um deles foi o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que conversou com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, no domingo sobre o assunto. O presidente da Fiesp costumava ser um forte aliado de Bolsonaro entre os empresários paulistas. “Conversei com Skaf neste domingo e, como não tem um prazo para a divulgação do manifesto, ficou combinado que não será nesta semana. Ele vai aguardar as comemorações do 7 de Setembro”, disse Lira a jornalistas.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, contou a jornalistas hoje que ficou sabendo do documento no sábado e defendeu que os bancos públicos não podem criticar o governo e comentou sobre a nota da Febraban. “Os bancos públicos não poderiam atacar o próprio governo, já que são bancos do governo. E a Febraban disse que não era um ataque ao governo, e sim uma defesa à democracia. Na defesa à democracia, estamos todos juntos”, disse o ministro após encontro com o presidente do Senado Federal e do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na residência oficial do Senado. Segundo ele, o adiamento acabou acontecendo porque não houve um acordo entre Fiesp e Febraban.
Veja a íntegra do manifesto:
A praça é dos Três Poderes
A praça dos Três Poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos poderes.
Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.
Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe.
As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população.
Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da nação brasileira.
Veja a íntegra da nota da Fiesp
Nota oficial
Na última quinta-feira, a Fiesp enviou consulta a diversas entidades para subscreverem o Manifesto em favor do entendimento e da harmonia entre os três poderes da República. Em 24 horas, recebemos mais de 200 adesões, das mais representativas entidades brasileiras.
Dezenas de outras entidades também manifestaram interesse em participar. Em função desse cenário, informamos que estendemos o prazo para novas adesões, que poderão ser feitas ao longo da semana.
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
Veja a íntegra da nota da Febraban
Nota de Esclarecimento da Febraban
O manifesto “A Praça é dos Três Poderes”, articulado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e apresentado na última quinta-feira às entidades empresariais com prazo de resposta até 17 horas da sexta-feira, é fruto de elaboração conjunta de representantes de vários setores, inclusive o financeiro, ao longo da semana passada.
Desde sua origem, a Febraban não participou da elaboração de texto que contivesse ataques ao governo ou oposição à atual política econômica. O conteúdo do manifesto pedia serenidade, harmonia e colaboração entre os Poderes da República e alertava para os efeitos do clima institucional nas expectativas dos agentes econômicos e no ritmo da atividade.
A Febraban submeteu o texto a sua própria governança, que aprovou ter sua assinatura no material. Nenhum outro texto foi proposto e a aprovação foi específica para o documento submetido pela Fiesp. Sua publicação não é decisão da federação dos bancos. A Febraban não comenta sobre posições atribuídas a seus associados.