FGV:PIB brasileiro entre 2020 e 2021 será um dos piores do mundo

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ROSANA HESSEL

Devido à recessão global profunda que está se formando devido à pandemia de covid-19, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil está na lista dos que devem ser mais afetados, apesar de o otimismo vir ganhando corpo entre os operadores do mercado financeiro.  Pela média das projeções de 2020 e 2021, o país ficará entre os 10 piores desempenhos entre 33 países, conforme dados coletados por Marcel Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

O economista fez uma comparação entre as projeções do mercado e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e constatou que o tombo do PIB brasileiro será grande em todos os casos. Enquanto o FMI, prevê retração de 9,1% no PIB brasileiro, o Ibre estima recuo de 6,4%. Para 2021, as projeções de crescimento são de, 3,6%, e de 2,5%, respectivamente. O levantamento também levou em consideração a previsão da pesquisa semanal Focus, do Banco Central, de queda de 6,5%, em 2020 e, de crescimento de 3,5%, em 2021, e comparou o desempenho médio no biênio 2020 e 2021.

Pelas contas de Balassiano, com as projeções do FMI, mais pessimistas do que as projeções brasileiras, o PIB brasileiro deve apresentar um recuo médio de 3%, entre 2020 e 2021. Pela média das estimativas do Ibre, essa média de queda será de 2,1% no biênio, e, pela média do Focus, de -1,6%. “Ao se considerar as projeções do FMI em uma amostra de 30 países selecionados, o Brasil vai apresentar o sexto pior desempenho no biênio. Com as projeções do Ibre, passa para o oitavo pior desempenho. E, com uma queda média do Focus, haveria 12 países com desempenho pior e três com a mesma taxa de Irã, Holanda e Tailândia”, afirma.

O economista do Ibre reforça que ainda não dá para ser otimista com a retomada da economia. “O alto grau de incerteza desta crise ajuda a explicar a diferença grande para as duas projeções. São muitas incertezas, no Brasil e no mundo, sobre o tamanho da perda e, principalmente, sobre o processo de retomada após a flexibilização e o comportamento dos consumidores. Ainda há dúvidas sobre a possibilidade de segunda onda e se haveria um novo fechamento integral. Ainda, mais para frente, quando acabarem os auxílios emergenciais, entre outras questões, não há uma clareza sobre o comportamento da economia”, explica.

De acordo com Balassiano, a maior diferença até então entre as projeções do FMI e da Focus ocorreu em 2009. “Foi  justamente na última recessão mundial. O Fundo esperava uma queda de 1,3%, e o Focus, de 0,4%. E, no final, a taxa efetiva foi de recuo de 0,1%, mais próxima das projeções da Focus do as que do FMI”, compara. Para ele, como as projeções de junho do FMI e do Focus ficaram próximas nos últimos 13 anos, com exceção de 2009, os desvios também não divergiram muito.

Sobre os dados mais de curto prazo, se por um lado houve uma surpresa positiva sobre as vendas no varejo de maio, o setor de serviços veio abaixo do esperado e apresentou queda, o que não dissipa as incertezas sobre uma retomada mais acelerada. “Apesar da alta incerteza, as expectativas de mercado se ‘estabilizaram’ no patamar de uma queda de 6,5% já desde o começo de junho, mantendo a divergência para as projeções mais ‘pessimistas’ do FMI e do Banco Mundial, que prevê retração de 8%”, compara.

Vicente Nunes