“Esse IGP-M de março é o mais elevado desde o início do Plano Real”, afirmou o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços do FGV Ibre, em entrevista ao Blog. O plano de estabilização de preços comandado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso foi iniciado oficialmente em julho de 2014. Segundo ele, em março de 1995, a taxa do IGP-M foi de 1,12%.
No ano, o IGP-M acumulou elevação de 8,26% e, em 12 meses, o salto do indicador passou de 30%, chegando a 31,1% — o maior patamar desde maio de 2003, de acordo com Braz. Em março de 2020, subiu 1,24% e acumulava alta de 6,81% em 12 meses.
“O IGP-M de março recebeu influências diversas mostrando que os preços das matérias-primas, mesmo subindo menos agora, ainda desafiam a cadeia produtiva fazendo com que os preços de bens intermediários e bens finais continuem subindo”, explicou Braz. Segundo ele, os combustíveis também responderam “por parte importante da aceleração de março do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) do Índice de Preços ao Consumidor (IPC)”, que antecipa a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — levantado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O relatório semanal Focus, do Banco Central, vem mostrando que a mediana das estimativas do mercado para o IPCA está sendo corrigida para cima há oito semanas consecutivas. No último dado, divulgado ontem, passou de 4,75% para 4,9%. Esse percentual já fica acima do centro da meta de inflação, de 3,75%, determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas dentro da margem de tolerância que tem um teto de 5,25%.
Os dados do IGP-M de março são referentes ao intervalo entre o dia 21 de fevereiro e o dia 20 de março. E, nesse período, o IPC-M acumulou alta de 0,98%. Contudo, pelas estimativas de Braz, o IPC no mês de março, que é divulgado no início de abril, considerando os dados do mês fechado, deverá registrar alta de 1,1%, taxa que deverá ser parecida no IPCA. “Se os combustíveis não subirem, em abril, a inflação pode arrefecer um pouco, principalmente para o consumidor”, disse.
Para o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, que esperava elevação de 3,10% no IGP-M, o resultado de março ficou abaixo das expectativas, “mas representa uma alta relevante”. Diante desse dado, ele reforçou as apostas de que o Banco Central deverá elevar a taxa básica de juros (Selic) em 100 pontos-base em maio em vez de mais uma alta de 0,75 ponto percentual sinalizado no comunicado do Comitê de Política Monetária.
“O IPA, preços no atacado, subiu nada menos que 3,56% no mês puxado por bens industriais. No entanto, a surpresa ficou com o IPC, que subiu 0,98% no mês contra 0,35% no mês anterior”, destacou Perfeito. “Está evidente que a dinâmica inflacionária ganhou momento e se retroalimenta e isto exigiria uma atitude mais austera do Banco Central”, acrescentou ele, que aposta na Selic fechando em 6% no fim do ano. A mediana das previsões do mercado para a taxa básica está em 5%.
Aceleração generalizada
Conforme os dados do FGV Ibre, todos os componentes do IGP-M registraram aceleração. O IPA avançou 3,56% em março, ante a alta de 3,28% no mês anterior. O Os preços das matérias-primas, que continuam em alta, especialmente, por conta da valorização do dólar que já encosta em R$ 5,80 devido às incertezas internas, tem impactado na variação entre fevereiro e março de preços de bens intermediários (de 4,67% para 6,33%) e de bens finais (de 1,25% par 2,5%), segundo Braz. Ele lembrou que o aumento nos preços dos combustíveis também tiveram contribuição nesses indicadores de preços ao produtor e ao consumidor.
No caso do IPC, quatro das oito classes de despesa componentes do índice ao consumidor registraram acréscimo em suas taxas de variação. A principal contribuição partiu do grupo Transportes (1,45% para 3,97%). Nesta classe de despesa, vale citar o comportamento do item gasolina, cuja taxa passou de 4,42% em fevereiro para 11,33% em março.
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 2% em março, ante 1,07% no mês anterior. Dois dos três grupos componentes do INCC apresentaram aceleração nos preços, entre fevereiro e março: Materiais e Equipamentos, de 2,39% para 4,44% e Mão de Obra, de 0,03% para 0,28%. Enquanto isso, a alta de Serviços passou de 1,05% para 0,69%.
Veja abaixo a escalada do IGP-M: