FGV Ibre eleva de 4,8% para 5,2% a previsão de crescimento do PIB

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ROSANA HESSEL

O Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) melhorou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, de 4,8% para 5,2%, conforme dados do documento divulgado nesta quinta-feira (22/07).

De acordo com a coordenadora do Boletim, a economista Silvia Matos, apesar da melhora nas projeções, o crescimento do PIB do segundo trimestre deverá continuar bastante heterogêneo, principalmente no setor de serviços, como o registrado no resultado do primeiro trimestre. “Portanto, no segundo trimestre devemos ter o setor de serviços mais positivo e a produção industrial mais negativa, em contraste com o trimestre anterior”, destacou.

Ela lembrou que o bom desempenho da agricultura, que ajudou a evitar uma queda maior do PIB em 2020, não deverá se repetir neste ano, em grande parte, devido à falta de chuvas que está elevando os riscos da crise hídrica. Vale lembrar que os analistas alertam para a quebra da safrinha de milho por conta da estiagem. Pelas novas projeções do Boletim, o PIB do segundo trimestre deverá registrar um leve crescimento, de 0,1%, na comparação com os primeiros três meses do ano — mesma taxa estimada no boletim de junho –, com quedas de 3,3%, na agropecuária, e de 1,8%, na indústria, e crescimento de 0,9% em serviços, pelo lado da oferta, na mesma base de comparação. Antes o instituto previa queda de 1,9% tanto para a indústria quanto para a agricultura, mas a mesma taxa de expansão para serviços.

Do lado da demanda, o consumo das famílias e do governo deverão apresentar crescimento de 0,5% e de 1,1%, respectivamente. Já o investimento deverá encolher 4,3% na margem, queda menor do que a anteriormente prevista, de 5,3%. As exportações devem registrar expansão de 6,3% e as importações, recuo de 0,2%. Na comparação com o segundo trimestre de 2020, a previsão para o crescimento do PIB do segundo  trimestre do Ibre é de 12,7%.

Riscos no radar

Apesar do avanço da vacinação no país, Silvia Matos lembrou que há fatores de incertezas que podem atrapalhar o processo de retomada da economia, além das pressões inflacionárias, que podem aumentar na medida em que os serviços forem recuperando a normalidade. “O medo da crise hídrica e a incerteza política tornam o cenário mais desafiador e pode afetar os investimentos”, alertou. “Há fatores ainda que tornam o quadro mais crítico, como a falta de insumos para a indústria, os riscos de interrupção da produção em caso de racionamento, o encolhimento do setor informal diante da inflação alta, que corrói a renda das famílias, e pode  frear o consumo e também o crescimento da economia devido ao inevitável aumento da taxa de juros pelo Banco Central”, emendou.

O risco de terceira onda, na avaliação da economista, é menor devido ao avanço do programa de imunização de pessoas com 30 anos em alguns estados brasileiros. “A vacina demorou para chegar, mas o país, se necessário, poderá aumentar o ritmo de imunização, porque o país tem a vantagem de ter o Instituto Butantan e a Fiocruz com capacidade para produzir localmente as vacinas”, avaliou.  “Estou mais otimista em relação à pandemia, porque o cenário está mais favorável com a vacinação em curso”, acrescentou.

As tensões políticas também entram no radar de riscos diante do aumento da fragilidade do governo, de acordo com Silvia Matos. “Há um clima de tensão política por conta da CPI da Covid, e a proposta de reforma tributária ainda do governo está muito confusa, porque prevê redução de arrecadação com a redução de impostos para as empresas. Ainda será preciso calibrar melhor a proposta quando ela começar a ser discutida no Congresso”, afirmou.

A especialista do Ibre lembrou que o mercado de trabalho deverá continuar fragilizado, com as taxas de desemprego ainda elevadas neste ano e no próximo, por conta do grande número de desalentados, 6 milhões, que podem se juntar aos quase 15 milhões que estão à procura de uma vaga.

Vicente Nunes